História da Bananicultura
1. Considerações iniciais.
A banana é a fruta fresca mais consumida no Brasil. Todavia antes de se falar sobre a história da bananicultura nacional, é preciso que se diga que a banana é uma fruta importante para o povo brasileiro, cujo consumo ”per capita“ é ao redor de 30kg.
A população é de 208 milhões de habitantes distribuída em 26 Estados e uma Capital Federal, sendo que em todos eles há produção de bananas. O Brasil tem sua área geográfica igual a 8.511.965 km².
Quadro nº 1 – Comparação entre a área geográfica do Brasil com a de alguns países produtores de banana.
| Brasil | 8.511 mil km² | |
| índia | 3.287 mil km² | 2,58 vezes menor |
| México | 1.972 mil km² | 4,31 vezes menor |
| Colômbia | 1.138 mil km² | 7,47 vezes menor |
| Venezuela | 916 mil km² | 9,32 vezes menor |
| Equador | 283 mil km² | 30,07 vezes menor |
| Honduras | 112 mil km² | 75,99 vezes menor |
| Costa Rica | 50 mil km² | 170,22 vezes menor |
A palavra banana é originária das línguas serra-leonesa e liberiana (costa ocidental da África), a qual foi simplesmente incorporada pelos portugueses à sua língua.
Não se pode indicar com exatidão a origem da bananeira, pois ela se perde na mitologia grega e indiana. Atualmente admite-se que seja oriunda do Oriente, do sul da China ou da Indochina. Há referências da sua presença na índia, na Malásia e nas Filipinas, onde tem sido cultivada há mais de 4.000 anos. A história registra a antigüidade da cultura. De acordo com documentos publicados em 06 de janeiro de 2006, a banana estava em Uganda, continente africano há mais de 2.000 anos, com base em estudos feitos em fitólitos (cristais de sílica hidratada absorvidos pelas raízes).
Quando Cristóvão Colombo chegou às Antilhas em 1492, encontrou os índios comendo bananas, conforme seu relatório de viagem relatando inclusive que os Incas tinham a banana na sua alimentação básica.
Entretanto, os registros de importação das primeiras bananeiras para o continente americano datam de 1494 a 1530, épocas em que já se conhecia, no continente asiático, elevado número de espécies do gênero Musa, incluindo-se aquelas ornamentais, sem valor alimentício. Como essas espécies não foram encontradas pelos descobridores em nossa terra, pode-se deduzir que deve ter havido uma seleção do material trazido desses locais de origem da bananeira.
Esse aspecto é um ponto pacífico em que os historiadores se baseiam para explicar a etnia asiática do índio das Américas. Atribui-se a esses imigrantes a primeira seleção de bananas feitas no mundo e a introdução das primeiras mudas ou sementes produtoras de bananeiras comestíveis no Continente Americano. Uma das formas de se explicar e que reforça esse fato, foram as recentes informações de que os chineses fizeram excursões vindas pelo Sul da América do Sul e chegaram até as Guianas, muito antes do que os portugueses, eles, que naquela época dominavam a navegação com suas embarcações, que eram as maiores do mundo. é possível que nesta oportunidade tenham trazido mudas de bananeiras e alguns exemplares de galinha que também foram encontrados aqui.
Tem-se ainda o fato que os primeiros colonizadores encontraram, por vezes, junto com os índios, habitantes negros que eram muito hostis, mais do que os nativos. Como chegaram até nós nada se sabe. Pode-se, por hipótese, admitir a possibilidade de que talvez eles tenham trazido em suas bagagens mudas de bananeiras.
Champion em seus estudos feitos sobre o transito dos diferentes grupos genômicos pelos continentes, elaborou o mapa abaixo, o qual nos informa que muitas cultivares podem ter vindo do continente africano para o americano pelo Atlântico e também pelo Pacífico através do Sul do nosso continente.
É difícil, senão impossível dizer quando começa História da banana no Brasil, pois os indígenas que já o habitavam não sabiam escrever e também não souberam contar como as bananeiras aqui chegaram.
O certo é que as bananeiras existem no Brasil desde antes do seu descobrimento por Pedro álvares Cabral. As primeiras informações de que nossos indígenas já conheciam e plantavam a banana, datam de 1500, as quais foram escritas por Pero Vaz de Caminha ao descrever o que vira por ocasião da chegada deles em nossas terras, as quais foram publicadas em l780, no livro “O tratado” por Pero de Magalhães Gândavo.
Segundo essas informações, Cabral encontrou os indígenas comendo in natura bananas de uma cultivar muito digestiva e saborosa, que se supõe tratar-se da 'Branca', que cortada transversalmente formava como que uma cruz. Havia ainda uma outra cultivar, rica em amido, que para ser consumida precisava ser cozida ou assada, chamada de ‘Pacoba’ (que deve ser a cultivar Pacova), que possuía grandes sementes férteis, maiores que as de algodão e que substituía o pão para os nativos. é interessante lembrar que a palavra pacoba, em guarani (língua de nossos indígenas) significa banana.
A criação do subgrupo Prata, foi proposta por Kenneth Shepherd, por ter reconhecido que as informações fornecidas por Jean Champion, no relatório de sua primeira visita ao Brasil em 1968, atestando que as bananas desse subgrupo não eram encontradas em outros locais e que a ‘Branca’ era o seu ancestral mais antigo tendo como descendente a ‘Prata’.
Atualmente, no Brasil, as cultivares do subgrupo Prata, em especial a ‘Prata’, são muito importantes por serem as mais consumidas. A cultivar Prata é popularmente confundida com a cultivar Branca, pois suas diferenças são pequenas. A cultivar Branca é mais encontrada em todo o Brasil, principalmente nas encostas das serras, a semelhança do que Cabral observou. Pela frequência que se pode encontrar essas duas cultivares no Brasil, torna-se muito difícil precisar quando e onde houve o aparecimento da cultivar Prata. Pelo quadro abaixo fica evidente que foi a cultivar Branca que deu origem à ‘Prata’. Para reforçar esta idéia, há ainda o fato que, ao se multiplicar por biotecnologia qualquer cultivar do subgrupo Prata, é comum nas variações somaclonais que aparecem, ter-se plantas da cultivar Branca e não se conhecem casos de ser a cultivar Prata.
Quadro nº 2. Comparação entre as cultivares Branca e Prata.
| Diferenças | 'Branca' | 'Prata' |
|---|---|---|
| Tamanho do cacho menor Postura da inflorescência | maior quase horizontal | quase 45° para o solo |
| Postura da ráquis masculina
Ráquis masculina Botão floral |
vertical sem restos florais menor | segue a curvatura do cacho com alguns restos florais maior |
| Postura das folhas Dimensões das folhas ápice das bananas na colheita |
mais eretas
mais estreitas quase horizontais |
tendem para horizontal
mais largas voltadas para cima |
| Bananas na colheita Casca Casca |
mais curtas e mais finas
mais fina com Cladosporium musae |
mais longas e grossas mais grossa sem Cladosporium musae |
| Polpa Paladar Chochamento de bananas * |
mais branca
quase insípido ocorre |
mais creme
mais definido e adocicado não ocorre |
| Quanto às sigatokas Quanto a fusariose Quanto a broca |
mais tolerante mais resistente mais resistente |
menos tolerante
menos resistente menos resistente |
| Quanto ao porte Diâmetro do pseudocaule * - ou inguirin |
igual mais fino |
igual mais grosso |
Para se falar da História da banana no Brasil, vamos iniciar com o Brasil Colônia. Durante os primeiros anos de colonização (até 1570), os portugueses se utilizaram dos índios como escravos para fazer suas edificações e lavouras. Dada a indolência peculiar deles, foram feitas compras de escravos na áfrica (principalmente de Moçambique, Angola, Congo, Nigéria e Costa do Marfim) durante o período de 1550 a 1855, atingindo um total de cerca de 4 milhões, sendo a maior parte de homens jovens. Deve-se lembrar que muitos deles vieram espontaneamente para fugir das guerras tribais. Dentro das iniciativas colonizadoras, em 1530, foi introduzida a cana de açúcar, vinda da Ilha da Madeira, para São Vicente e em 1538, em Pernambuco e 1551 foram trazidos gado e cavalos. Sabe-se que a banana Nanica veio das Ilhas Canárias e Cabo Verde, onde já a cultivavam, não havendo definição da data em que isto ocorreu. Lembrando que em todo o Continente Africano já plantavam outras bananeiras, há séculos, podendo-se supor que juntamente com os escravos podem ter vindo algumas delas.
Sobre essa primeira época pouca informação existe. Apenas sabe-se que os índios mantinham junto as suas habitações pequenos cultivos e que as bananeiras estavam sempre presentes. Ao se mudarem levavam mudas de banana, assim como outras plantas para garantirem suas sobrevivências, tais como: milho, mandioca, fumo, algodão, e o que era chamado pelos índios tupis de milho d’água (“abatiuaupé”) que era consumido como se fora o arroz.
No início da colonização do Brasil, D. João III, rei de Portugal, resolveu, em 1532, dividir o país em 12 Capitanias Hereditárias, que eram faixas paralelas ao Equador, com larguras variáveis em torno de 300 km, que iniciavam no litoral e se estenderiam até ao Meridiano de Tordesilhas. Seus concessionários deveriam cuidar de explorar toda a área e principalmente povoar o litoral, para evitar invasões, em especial de franceses e espanhóis.
Nessa ocasião, toda a Europa tinha falta de açúcar. Diante disto houve interesse pessoal do Imperador em iniciar plantios de cana de açúcar para ser utilizada nos engenhos. Para isso a mata foi derrubada e a cana de açúcar plantada. Outras áreas foram derrubadas e consumidas como lenha.
O primeiro engenho de cana de açúcar em Santos foi construído em 1532. Quando os engenhos começaram a moer a cana de açúcar, havia necessidade de mais lenha para produção do açúcar. Essas áreas derrubadas foram plantadas para produção de alimentos, sendo parte delas com bananeiras, fruta que muito agradava ao paladar dos portugueses e, aos escravos pretos e indígenas, representava alimento. Assim, junto aos engenhos sempre se formavam pequenos bananais. Padre José Anchieta que chegou ao Brasil em 1553, em uma de suas cartas ao Padre Manoel da Nóbrega, em 1563, quando esteve como refém dos índios em Iperoig, em Ubatuba, SP., ele contou que gostava de comer bananas, o que torna óbvio que havia bananais na região.
Ao se fazer algumas considerações iniciais sobre as diferentes cultivares que existiam entre nós, no início do século XX, é preciso dizer que essa possibilidade se deve a um remoto trabalho de coleta nacional, iniciado em 1925, pelo engº agrº Felisberto Cardoso de Camargo, que organizou na Fazenda Santa Eliza, do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, a primeira coleção de bananeiras que se tem notícia no Brasil, com 12 cultivares, coletadas em suas múltiplas viagens pelos Estados. Com o passar dos anos essa coleção foi ampliada, chegando a pouco mais de 100 outras novas cultivares brasileiras.
é importante relacionarmos que há uma série de cultivares que apareceram no Brasil, espontaneamente, em algum lugar e que não são citados como existentes em outros países, tais como:
Quadro nº 3 – Cultivares originados no Brasil
| Nome da cultivar | Descendência | Origem |
|---|---|---|
| Carnaval | Terra | Conceição de Macabu, RJ |
| Caturrão | Nanica | Santa Catarina |
| Colatina ouro | Ouro | Espírito Santo |
| ‘Prata Anã’(Prata anã) | Branca | Santa Catarina |
| Nanicão IAC 2001 | Nanica | Campinas SP |
| Nanicão Jangada | Nanica | Arandu SP |
| Maranhão branca | Terra | Maranhão |
| Maranhão caturra | Terra | Maranhão |
| Maranhão vermelha | Terra | Maranhão |
| Nanicão | Nanica | Santos SP |
| Ouro da Mata | Branca | Viçosa MG. |
| Pacovan | Branca | Pentecoste CE |
| Pacoví | Pacova | Amazonas |
| Platina | Maçã | Macaubal SP |
| Prata do Itimirim | Branca | Miracatu SP |
| Prata ponta aparada | Branca | Bahia |
| Prata Catarina | Branca | Santa Catarina |
| Prata Gorutuba | Branca | Janaúba MG |
| Salta do Cacho | Nanica | Alagoas |
| Samburá | Pacova | Pernambuco |
| Terra | ??? | ??? |
| Terrinha | Terra | Bahia |
Para melhor nos situarmos no tempo, convém lembrar que as primeiras informações da história internacional do início das exportações efetivas de bananas, datam de 1870, feita por uma escuna, que transportou da Jamaica para os Estados Unidos (cidade de Jersey) 160 cachos. Exportações esporádicas ocorreram anteriormente das ilhas do Caribe, onde as cultivares Nanica (1829) e Gros Michel (1835) já tinham sido aí introduzidas.
A exportação regular de bananas por navios a vapor no Mundo começou em 1894, transportando cachos sem nenhuma embalagem, que eram produzidos na Costa Rica e Panamá, com destino aos Estados Unidos.
A exportação de bananas pelo Brasil, feita pela primeira vez, foi em 1897, para a Argentina e Uruguai, com frutas colhidas nas Baixadas Fluminense e Santista, em propriedades localizadas junto aos rios que as cortam.
é interessante notar que as exportações feitas nessa ocasião por Santos, eram trocadas com a Argentina por mercadorias sem haver papel moeda.
As primeiras exportações efetivas de banana do Brasil ocorreram a partir de 1904, sendo o total de 339 mil cachos do Estado de São Paulo e 1.882 mil do restante do país, dos quais a maior parte foi produzida no Rio de Janeiro e o restante no Paraná e Santa Catarina. Nessa ocasião os cachos eram enviados para o mercado Platino (Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile) sem nenhuma embalagem.
A partir de 1912, a maior parte das exportações já era feita pelo porto de Santos, cuja liderança permaneceu até 1964, utilizando sempre navios adaptados com ventiladores para se ter a impressão que eram refrigerados.
A História da banana no Brasil registra que foi no Estado de São Paulo que as pesquisas brasileiras com essa fruteira tiveram inicio, com os primeiros experimentos instalados em 1925, pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e depois pelo Instituto Biológico de São Paulo (IB), seguido pelas avaliações do Instituto de Economia Agrícola (IAA) e dos trabalhos feitos pelo Instituto de Tecnologia Agrícola (ITAL), cujos resultados propiciaram bases para o começo das investigações feitas depois de 1970, por instituições de outros Estados e ainda como instruções práticas para produtores de todo o país.
2. A banana no Estado de São Paulo.
Os primeiros maiores plantios de banana ocorreram no Estado de São Paulo e foram realizados nas proximidades da cidade de Santos, entre 1800 a 1850.
Um fato interessante que a história registra como sendo a primeira lavoura extensiva de bananas ocorreu em 1803, com a vinda de cinco amigos portugueses chamados “Manoel”, para o Brasil, com a finalidade de plantar bananeiras em Cubatão, SP. As áreas dos seus bananais faziam parte das terras onde hoje está a Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA). A repercussão do sucesso dos cinco portugueses foi tão grande que, ao se criar o município de Cubatão, em 1833, colocaram uma folha de bananeira de cada lado do brasão da cidade, simbolizando uma coroa de louros.
No início do século XX, a quantidade de banana na região já era bastante grande a ponto de ser instalada em Santos, a indústria A. Leoneza Comercial e Industrial, em 1904, que foi a maior fabrica de doces de bananas da América do Sul até 1960, quando encerrou suas atividades, depois de ter vendido para as maiores e mais ricas cidades do Estado, além de exportar para a Inglaterra e países do Cone Sul, doces em massa (bananadas), balas, bananas envoltas em chocolate, em conservas, bananas desidratadas (passas) sendo que de cada 10kg de bananas madura obtinha-se 1,6 kg de passas.
Nas áreas aonde se iria plantar bananais, que ficavam muito perto do mar, era preciso fazer um sistema de drenagem em toda ela para ser possível sua formação, o que era feito simultaneamente com o inicio das roçadas, antes do plantio e da derrubada da mata. Para controlar as águas, havia no final dos canais principais, um sistema de comportas automáticas que se abriam e fechavam conforme o nível do mar subia ou abaixava. Esse sistema era denominado de “vala de rodo”, que se assemelhava a porta de uma gaiola de pássaros.
O solo nas cercanias de Santos é do tipo orgânico (pH em torno de 4) e por isso, para se iniciar um plantio, era necessário abrir muitos canais de drenagem, pois esse solo quase sempre fica apoiado sobre uma camada de barro conhecida como tabatinga, que é quase impermeável, o que dificulta muito o escoamento das águas. Bananais também foram plantados nas várzeas mais altas dos rios que descem a Serra do Mar, onde o problema de drenagem era bem mais simples e sofriam menores influencias das marés.
Praticamente todos os bananais plantados anteriormente a 1970, em regiões que não haviam ainda sido desbravadas, as áreas escolhidas eram os capoeirões mais velhos e as matas virgens. Os plantios eram feitos em regime de empreitada por pé de banana plantada, na qual o empreiteiro só concluía seu serviço quando o bananal já estivesse com mais da metade das plantas com cacho. Era sua responsabilidade fornecer toda a mão de obra, parcialmente paga pelo proprietário sob a forma de adiantamentos, incluindo os mantimentos e ferramentas, ficando o acerto final para após a contagem das bananeiras cacheadas.
Nessas áreas, após uma operação de roçada com foice, ficavam em pé apenas árvores que teriam de ser derrubadas com o machado. Na sua sombra, eram abertas diminutas e rasas covas (15 x 15 x 15 cm) e plantadas as mudas, quase sempre só do tipo pedaço de rizoma, que eram fornecidas pelo proprietário. Elas eram postas nas covas na posição em que as gemas laterais de brotação ficassem voltadas para o seu fundo e em seguida serem cobertas com uma pequena camada de terra da superfície.
Após dois a três meses do plantio, quando essas mudas começavam a emitir brotos para fora da terra, era feita a derrubada total da mata. Decorridos mais três a quatro meses, ocasião em que as mudas já estavam com quase um metro de altura e tendo havido a secagem da mata, efetuava-se sua queima. O fogo não chegava a causar prejuízos totais na bananeira, pois a gema de brotação ficava na parte mais profunda da cova, porém toda a parte aérea já brotada, era queimada.
Passados mais quatro meses, executavam-se com foice e machado a operação de “bater a jangada”, que consistia em rebaixar os galhos das árvores derrubadas, simultaneamente com a primeira roçada geral. Uma outra roçada em toda a área era realizada quando as plantas começavam a ficar adultas. Nessas precárias condições de serviço era iniciada realmente a formação do bananal, não havendo alinhamentos de plantio e nem sempre faziam o replantio das falhas que chegavam a 20 a 30%. Pouco antes do começo da colheita, novas empreitadas eram contratadas tais como uma roçada geral, locação das demais valas de drenagem, carreadores, etc. Enfim, todas as operações eram feitas sob empreita, que é a pior forma de se formar um bananal, porém era o costume da época.
Durante o processo de formação do bananal não se aplicava nenhum corretivo de solo e nem adubos. A colheita era realizada sempre por empreitada, sendo que muitas vezes a distancia do cacho colhido até ao local de embarque superava a 300m. Depois de colhidos, os cachos eram carregados dentro dos bananais, nos ombros dos operários, por empreitada, até aos locais onde as canoas ou os chatões podiam chegar. Se a distância era pequena, o operário chegava a transportar 4 e até 5 cachos em cada viagem. Havia um acordo tácito entre os operários no qual um ajudava o outro a fazer sua carga e a descarga dos cachos. Certo é que muitas vezes os cachos se estragavam devido a acidentes durante a “caminhada” feita até ao local de descarga.
Em muitas propriedades os cachos eram recolhidos em determinados locais, onde uma zorra puxada manualmente ou por animais os transportavam pelos carreadores até as canoas e daí para os chatões movidos a remo por quatro ou seis homens. A zorra era utilizada uma vez que no solo orgânico somente é possível fazer-se estradas por meio da construção de aterros, com terra trazida de outros locais. A zorra era constituída de dois ou três troncos de árvore de madeira de lei, com cerca de três metros de comprimento, colocados paralelamente, sobre os quais se construía um soalho de madeira, com dois metros de largura, em cima dos quais se levavam até 40 cachos, nem sempre cuidadosamente amarrados, formando uma carga.
Em alguns bananais, no início do século XX, a zorra foi substituída por um sistema de transporte dos cachos por vagonetas com tração humana ou animal, cujos trilhos eram feitos com madeira de lei, que possibilitavam lavar até 40 cachos.
Entretanto, em pouco tempo foi introduzido o Decauville para tracionar as tais vagonetas e os trilhos passaram a ser de ferro. O Decauville era uma pequena locomotiva a diesel, dirigida por um maquinista que se sentava de lado para poder olhar para frente e para trás, pois era muito comum alguma vagoneta tombar ou apenas descarrilar. Tinham baixa velocidade, bastante força e devido sua robustez dificilmente quebravam e chegavam a puxar de 5 a 6 vagonetas, com 30 a 40 cachos cada uma. Prestaram um grande auxílio aos bananicultores.
Para agravar as injúrias já feitas nas bananas, o serviço de estiva no cais era da pior qualidade que se pode imaginar, pois os cachos eram jogados como se fossem paralelepípedos, tanto pelo pessoal de terra como do navio.
Por volta de 1920, os bananais santistas que já tinham cerca de 3 milhões de pés, haviam exaurido quase toda a fertilidade das terras, que nunca foram adubadas. Hoje sabe-se que o grande problema desses solos era falta de calagem. Percebendo a decadência dos bananais, os produtores procuraram outras áreas ao longo das praias, para formação de novos plantios. Assim que se formaram ao Norte os bananais de São Sebastião com aproximadamente 3 milhões de pés e ao Sul um total de mais 10 milhões entre Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe. Os bananais de Santos sobreviveram ainda por algum tempo, porém depois da 2ª Guerra Mundial, os investimentos imobiliários tornaram as terras e a mão de obra muito valorizadas, substituindo-se a bananicultura pelo turismo.
A primeira maior propriedade bananeira do Brasil, foi a Fazenda São Sebastião, mais conhecida por Fazenda dos Ingleses, localizada entre São Sebastião e Caraguatatuba, SP., no Litoral Norte do Estado, cuja área era de aproximadamente 10.000 ha. Ela foi adquirida de uma firma francesa que ali se instalara em 1797, para extrair das matas dormentes para ferrovias européias e fazer sua exportação, o que ocorreu “oficialmente” até 1812. Dada às dificuldades governamentais impostas, a propriedade foi vendida por volta de 1925, para uma firma inglesa, que mais tarde passou a se chamar S.A. Frigorífico Anglo. A Fazenda dos Ingleses iniciou suas atividades em 1927, na margem direita do Rio Juqueri-querê. Ela tinha uma parte mais elevada que foi usada para plantio de citros (grapefruit) para exportação.
Como as áreas já haviam sido exploradas pelos antigos proprietários franceses tirando madeira para fazer dormentes, a limpeza consistiu em uma simples roçada geral. Essa imensa várzea que ficava próxima do mar, teve de ser totalmente drenada a mão para que se pudesse plantar as bananeiras. Sendo a altitude do terreno muito baixa, ele sofria influências das marés, que passavam a ser controladas com as “valas de rodo”, instaladas no final dos canais principais.
Inicialmente, foram plantadas mudas de ‘Nanica’, vindas de Santos, da Fazenda Trindade, que pertencia ao mesmo grupo econômico. Houveram também lotes vindos da mesma origem, aos quais lhes foi dado o nome de Congo ou Mestiça, cuja origem é desconhecida. Esta era muito semelhante a cultivar Nanicão (Giant Cavendish), porém um pouco mais alta, com pseudocaule mais fino e apresentando brácteas cobrindo os restos florais masculinos, em quase metade da ráquis.
A cultivar Nanicão é uma mutante da ‘Nanica’ surgida no litoral de Santos, ainda no século XIX, que é instável, sendo possível identificar-se algumas diferenças entre elas. Quanto ao seu paladar é igual ao da ‘Nanica’. Quando a Standard Fruit Company introduziu em suas plantações na América Central e do Sul, a Giant Cavendish, ela fez uma coletânea de cultivares em todo o mundo, inclusive em Santos (SP), em 1939, onde já havia cultivares de ‘Nanicão’, em tudo e por tudo iguais a ‘Valery’.
Mais tarde foram introduzidas, clandestinamente, na Fazenda mudas de raiz nua de ‘Gros Michel’, contaminadas com o mosaico do pepino (CMV - Cucumber Mosaic Vírus) vindas da América Central. Essa cultivar não teve bom desenvolvimento devido aos baixos índices de temperatura local e também pelos ventos fortes que por vezes derrubavam 40 a 50 mil plantas. Provavelmente esses tombamentos ocorreram também em face da presença de nematóides, que posteriormente foram aí identificados. Além disso, a ‘Gros Michel’ tem baixa tolerância ao mal do panamá. Todos os focos que apareciam dessa enfermidade eram erradicados e no local aplicado uma camada de cal virgem.
Os plantios foram feitos em quadras com 4 ha cada, com carreadores isolantes. Dessa forma iniciaram os plantios que chegou a atingir 3 milhões de bananeiras, no espaçamento de 4 x 4 m. Essas plantas eram desbastadas de modo a ficarem 2 ou 3 famílias por cova, com o auxílio do penado, que é uma ferramenta semelhante a uma roçadeira com cabo curto, que eram comprados na Europa. Os bananais foram adubados com leguminosas produzidas entre as plantas, que eram enterradas ao seu lado e esterco de curral na dosagem de 20 a 50 litros por família, a cada dois anos, pois não havia quantidade para fazer anualmente. Foi também usado como fonte de nitrogênio o salitre do chile e como fósforo a farinha de ossos e o superfosfato triplo. Como adubo potássico foi aplicado o sulfato de potássio ou o cloreto de potássio. Tendo sido verificado a falta de potássio no bananal, foram trazidos para a Fazenda cinzas de cafés queimados em Santos e do interior do Estado, por meio de chatões da própria organização. A distribuição desse adubo dentro propriedade foi feita por meio de vagões ferroviários que circulavam por todo o bananal.
Para o transporte da produção para o galpão de embalagem havia um sistema ferroviário com 0,60m de bitola, chegando a 120 km, envolvendo vários ramais, pois o terreno não tinha estrutura física para suportar o trânsito de veículos. Eram utilizados pequenas locomotivas tracionando um ou dois vagões para a linha principal, contendo até 200 cachos em cada um. Nesta se formavam os trens com até 40 vagões (o total que a Fazenda tinha eram 200 deles) que eram arrastados por uma locomotiva a diesel ou a gasolina, cujo peso era de 4 a 5 toneladas (a Fazenda mantinha sempre em funcionamento 8 das 12 máquinas), para o galpão de embalagem. Os vagões eram fechados lateralmente, à semelhança dos que transportam gado e cobertos com chapas de zinco.
A colheita que era programada por Londres com um mês de antecedência, começava a ser feita dois dias antes do embarque e retirada imediatamente do bananal pelos operários, que carregavam apenas um cacho no ombro, sobre um travesseiro de pano recheado com folhas secas de bananeiras. Junto ao local de embarque havia um suporte feito de madeira para pendurar os cachos. Entre as duas primeiras pencas era colocada uma almofada de papel jornal e em seguida vestia-se-lhe um saco de papel kraft perfurado, antes dos mesmos serem enviados ao galpão de embalagem.
No galpão, os cachos eram limpos, classificados pelo número de pencas sendo exportados para a Inglaterra apenas os de 1ª (mais de 12 pencas) e os de 2ª (mais de 10 pencas) e quando coincidia o retorno de um barco da organização para Santos, os de 3ª (8 pencas) eram enviados para a indústria A. Leoneza, sem nenhuma embalagem. Não havendo esta possibilidade, os refugos (descartes) eram jogados dentro do bananal.
Os cachos que serviam para exportação eram envolvidos em uma manta dupla de papel kraft, amarrados com um cordel de sisal de modo que não se desembrulhasse. Depois de l930, por vezes o saco era substituído por uma manta costurada, feita com palha de arroz e ou trigo, vindos da Holanda. Logo depois esse palhão foi substituído por outro produzido no Paraná, com o mesmo material. Por iniciativa e orientação do Instituto Agronômico de Campinas, passou-se a fazer os palhões com folhas de tabua (Typha domingensis), unidas por seis costuras, na própria fazenda.
As extremidades da ráquis eram aparadas bem curtas e pinceladas com carbolineum ou parafina para estancar a exsudação da seiva e evitar infecção. Estando devidamente embalados, os cachos seguiam pela ferrovia até ao porto do Rio Juqueri-querê, onde eram carregados em chatões contendo até 1.000 deles. Um rebocador puxava apenas dois de cada vez para o canal de São Sebastião e Ilha Bela, onde os cachos eram levados para bordo por meio de uma das 4 dalas (esteiras elevatórias) do próprio navio, que trabalhavam simultaneamente, até completarem a carga de 6 mil cachos. Nesses navios, de propriedade da própria organização (“Blue Star Lines”), os cachos eram empilhados nos porões refrigerados, que nem sempre mantinham corretamente a temperatura de 12/14°C, o que provocava o “bombamento” (amadurecimento por excesso de calor e gás carbônico) de toda a carga que era então jogada no Rio Tamisa.
Para que toda a Fazenda funcionasse perfeitamente havia uma completa estrutura que começava com a casa do gerente geral, no alto de um morrete e logo mais abaixo as casas dos operários (que eram 800 e que com suas famílias completavam 4.000 pessoas), de madeira, com luz elétrica e água encanada. Um sistema de telefonia ligava todas as seções da Fazenda e também com a delegacia de polícia da cidade. Na parte mais baixa ficavam as casas de embalagem de banana e citros, os almoxarifados e os galpões de manutenção. é importante dizer-se que o comando central da Fazenda dos Ingleses era em Londres, de onde saiam todas as programações, as ferramentas, etc e o dinheiro também. Os mantimentos vinham de São Paulo, via Santos e do Rio de Janeiro.
A Fazenda dos Ingleses funcionou nesse esquema com embarques semanais de seis mil cachos, até que durante a 2ª Guerra Mundial, dois ou três de seus navios foram afundados, quando parou a exportação. Ela só retornou em 1947 depois que tudo se acalmou. Nessa ocasião foram utilizadas caixas de madeira, de pinho, completamente fechadas, para a acomodação das pencas que eram envoltas em sacos de polietileno, até 1960.
Em 1935, apareceram na Fazenda dos Ingleses alguns focos da sigatoka amarela, em plantas de ‘Gros Michel’, provenientes da América Central, que estavam em viveiros, as quais foram destruídas, apesar de não ter sido confirmada cientificamente sua presença. Entretanto, em 1955 novos focos apareceram e a moléstia se expandiu por toda a propriedade. Decorrente dos prejuízos que estavam tendo, a Fazenda dos Ingleses resolveu adquirir dois aviões alemães Stuka, biplanos, que tinham sido usados durante a 2ª Guerra, que foram pilotados por Zieminsky, que depois de destruir o primeiro em cima dos bananais, continuou voando com o segundo. No lugar do co-piloto foi instalado um tambor de 200 litros de “spray oil” e para sua distribuição, foram fabricados dois microners usando as pás de ventilador de uso doméstico. Dessa forma foi possível fazer-se uma razoável pulverização, graças a grande habilidade do piloto e com isso obter-se algum controle da sigatoka amarela. Este “quebra galho” funcionou por quase 3 anos, quando novos equipamentos foram adquiridos. Além do problema da sigatoka amarela, havia ainda grande infestação de broca das bananeiras, cujos adultos eram recolhidos manualmente de baixo das iscas “telha”, por 2 a 3 vezes por semana (em cada litro havia cerca de 12.000 insetos adultos). Tentou-se eliminar a broca usando o BHC, mas em pouco tempo verificaram que seu cheiro típico aparecia na polpa das bananas. Ao se fazer novos plantios, para matar as brocas, as mudas sem serem escalpeladas, eram deixadas por 15 dias em água corrente. Quanto aos nematóides não havia nenhum controle, pois ainda estavam sendo estudados e com isso houve grande queda na produção e elevação dos seus custos.
Na noite de 17 para 18 de março de 1967, depois de um período de quase trinta dias seguidos de chuvas, um tornado caiu nas encostas da Serra do Mar, causando grandes desmoronamentos e um mar de lama invadiu quase toda a Fazenda, chegando em alguns locais a 5 m de altura, porém, de um modo geral, a altura foi de 2 m. Houve um completo soterramento de mais de dois milhões de bananeiras, que ainda estavam em produção, benfeitorias, seus trens, casas enfim tudo que lá estava. O número de mortos foi pequeno, cerca de 400 pessoas, por terem as demais conseguido se abrigar em cima dos vagões. Como parte inexplicável desta catástrofe, houve o fato de que quase nenhum dos animais tivesse morrido, pois assim que começou a chover mais forte, eles arrombaram as cercas e se refugiaram nas partes altas da Fazenda. Diante de tamanha tragédia, houve dispensa e indenização de todos os operários e as terras vendidas ou doadas para diversos grupos de pessoas.
Deve-se enfatizar que a Fazenda dos Ingleses foi a primeira das de banana a colaborar com os órgãos de pesquisas, possibilitando que técnicos dos Institutos Agronômico de Campinas e do Biológico de São Paulo, instalassem nela experimentos de banana e citros, dando-lhes todo o apoio que precisaram. Posteriormente, inúmeras empresas agrícolas e produtores individuais tiveram igual procedimento com os órgãos de pesquisa e de extensão rural.
Os bananais ao Sul de Santos, nos três municípios já citados (Mangaguá, Itanhaém e Peruíbe), foram formados por vários grupos de produtores independentes, a partir de l927, seguindo os sistemas tradicionais, isto é, empreitadas, porém a drenagem era feita juntamente com a derrubada das matas, que por sinal eram bem mais fracas do que aquelas próximas de Santos. O número de valas e sua extensão eram simplesmente incalculáveis, sendo estimado em mais de duzentos quilômetros. Nessas áreas, o plantio da banana foi mais fácil por estarem mais distantes do mar e suas várzeas serem de origem fluvial (argilo-silicoso-húmifico), devido aos rios que as atravessam, que no início serviram para o transporte da produção. A cultivar explorada era só a ‘Nanica’. O sistema de transporte dentro das fazendas, desde seu início, era feito com o Decauville, cujos trilhos chegaram a ter duas ou três centenas de quilômetros. Em pouco tempo esses bananais superavam 10 milhões de pés, sendo a colheita e o transporte dos cachos dentro das plantações, para as linhas da ferrovia dos Decauvilles, feitos no mesmo padrão dos plantios de Santos: empreitada. Os cachos sem nenhuma embalagem eram postos nas vagonetas que os levavam até ao porto fluvial das fazendas, onde seriam embarcados em chatões que eram puxados por pequenas lanchas, até a barra do respectivo rio, donde eram ligados a rebocadores que os arrastavam até ao costado dos navios, em Santos. Os cachos com padrão de exportação eram então embarcados e os refugos enviados para São Paulo ou para a indústria.
O transporte dos cachos destinados ao mercado interno, quando chegavam no cais de Santos, vindos nos chatões, eles eram transportados em carroções puxados por cavalos, os quais foram depois substituídos por caminhões, até a ferrovia que os levavam em vagões fechados para São Paulo, onde eram vendidos na “praça da banana”. Essa praça ficava no local do atual terminal do Metrô na Barra Funda. Quando o trem chegava, os representantes da Cooperativa Central de Bananicultores do Estado de São Paulo (CCBESP), ou da Cooperativa Agrícola de Cotia, (CAC) ou da Cooperativa Sul Paulista ou ainda daqueles intermediários compradores junto aos produtores, faziam a venda dos cachos.
Inicialmente essa venda era comercializada por dúzia de cachos para outros intermediários e transportados em caminhões para os depósitos dos atacadistas maturadores, que os processavam usando carbureto de cálcio ou a queima de serragem. Posteriormente foi instalada uma balança, para pesagem desses caminhões. Entretanto, como os cachos destinados à “praça da banana”,geralmente vinham em vagões totalmente fechados, por vezes, a fruta chegava já madura ou mesmo toda “bombada”, portanto, imprópria para consumo, sendo então encaminhada para o lixo. Quando o transporte da banana para São Paulo passou a ser feita por caminhões dos produtores, depois da 2ª Guerra Mundial, foi criado mais outro local de venda de banana, a Praça São Vito, que fica defronte ao Mercado Municipal. A forma da comercialização continuou a mesma.
Conforme já foi dito, no início das exportações brasileiras de bananas, em 1904, os cachos eram trazidos das fazendas próximas de Santos, em chatões, que atracavam ao lado dos navios e os embarcavam por meio das dalas; o mesmo aconteceu com as produções vindas dessas fazendas do Litoral Sul.
Por volta de 1930, as dalas pararam de ser usadas e os cachos para exportação passaram a ser envoltos e amarrados com palhões ao longo das linhas do Decauville e subiam a bordo por meio de lingadas operadas pelo próprio navio.
Com a construção da ferrovia Santos a Juquiá pela Southern São Paulo Railway em 1914, que foi adquirida pela Estrada de Ferro Sorocabana, em 1927, parte do transporte da banana passou a ser feito por essa via, principalmente os cachos que vinham por meio de um trenzinho puxado por um Decauville e que chegavam até aos trilhos da ferrovia, onde eles eram embarcados nas gôndolas de transporte de gado, quando seguiam para o porto de Santos e em vagões fechados para São Paulo.
A ferrovia Sorocabana possibilitou que novos plantios fossem feitos por pequenos agricultores nas localidades ao longo de seu percurso, principalmente depois que ela deixava as proximidades das praias. Esses produtores eram conhecidos pelo nome de Produtor da Linha Santos-Juquiá, cuja quantidade de bananeiras em pouco tempo (1924) chegou a 3 milhões de pés. Destaque-se que esses agricultores eram de origem japonesa, italiana, alemães e até alguns brasileiros. Nesses bananais familiares, todos trabalhavam de sol a sol, pois os plantios eram feitos com recursos próprios. As mudas eram da cultivar Nanica, obtidas com os vizinhos e os plantios feitos seguindo os conselhos correntes entre eles. Os espaçamentos entre as covas eram de 4x4 m e até 3x3 m. A operação desbaste era feita com o penado e com muito cuidado, pois em cada cova deveria ficar “apenas” três filhos, que no futuro se transformariam em três famílias independentes. Havia sempre um intermediário (como foi o caso de Karl Fischer que inicialmente trabalhava numa olaria e passou a ser comprador de bananas, acabando por construir o império Cutrale/Citrosuco, um dos dois maiores produtores e exportadores de laranjas do Brasil), que comprava as produções pagando o preço por dúzia de cachos, fazendo por base o tipo exportação com 10 pencas. Quando o cacho não tinha esse tamanho, na compra contava-se dois por um ou até mesmo três por um. O intermediário freqüentemente investia nos agricultores que quisessem ampliar seus plantios.
As adubações somente começaram a ser feitas depois da 2ª Guerra Mundial, com adubos vindos da França, cujos resultados foram muito bons. Nessas propriedades, os cachos quase sempre eram transportados para o local de embarque no lombo de muares ou então por meio de zorras e também por Decauville. As propriedades, cuja produção era do outro lado dos rios existentes, ela era transportada por meio de cabos aéreos. Os cachos, colhidos de véspera, eram empilhados junto a ferrovia, cobertos com folhas de bananeiras até que o trem chegasse, quando então era feito o seu carregamento em vagões tipo gôndolas para Santos e vagões fechados se para São Paulo. Nessa ocasião, o intermediário comprador fazia a classificação dos cachos para posterior pagamento. Esses produtores tiveram muitas dificuldades econômicas durante o período da 2ª Guerra Mundial, pois as exportações pararam e tudo que se colhia era vendido para o mercado interno ou para a indústria.
A construção da ferrovia Sorocabana provocou uma grande evolução entre Peruíbe e Juquiá. Como extensão da ferrovia, a Sorocabana implantou uma rede fluvial de navegação, cujos barcos percorriam do alto Rio Ribeira (Eldorado Paulista) até sua barra (Iguape), por quase 300 km, transportando pelo seu afluente, Rio Juquiá, a produção de bananas de suas várzeas para Estação de Juquiá, de onde seguiam para Santos ou São Paulo pela ferrovia. Até essa ocasião, não havia outro meio de transporte da produção.
Inicialmente, esses cachos para exportação também eram embarcados sem nenhuma embalagem, porém quando as produções de Santos começaram a ser embaladas com mantas de tabua (1930), o mesmo aconteceu com as da Linha Santos-Juquiá.
A medida em que os bananais aumentavam, as várzeas eram ocupadas e com isso os novos plantios passaram a ser feitos nos morros, com a mesma sistemática de preparo da área. Havia a vantagem de não ser preciso fazer a drenagem e os matos invasores eram menos ativos e com isso fazia-se apenas duas roçadas por ano. Entretanto, o transporte dos cachos para os pontos de embarque passou a ter maiores dificuldades, pois todos tinham de vir no lombo dos burros, que transportavam sempre no mínimo 6 deles, uma vez que as estradas eram precárias e os caminhões nem sempre conseguiam descer os morros com até “quatro toneladas” de banana. Tendo em vista que competia ao intermediário comprador classificar os cachos para fins de pagamento, a embalagem era feita nos pontos de embarque da ferrovia.
Da mesma forma que produção da Baixada Santista chegava ao cais para ser exportada ou para seguirem para o mercado de São Paulo, as da Linha Santos-Juquiá passaram a ter esse acesso.
Os plantios no Vale do Ribeira começaram depois que as lavouras de arroz diminuíram, por volta de 1912, nas várzeas próximas de Iguape, onde os solos são orgânicos, à semelhança dos de Santos.
O desenvolvimento do cultivo da banana no Vale do Ribeira, de deu efetivamente a partir de 1930, pelas mãos dos agricultores imigrantes japoneses, sendo Registro a área que mais expandiu, uma vez que seus solos são aluviais e que não são sujeitos às inundações de água do mar e ainda pelo fato dos problemas de drenagem serem muito mais simples. Durante a 2ª Guerra Mundial houve uma grande paralisação, que somente melhorou com o seu final.
Até a década de 40, quando já havia estrada de terra ligando Registro a Tapiraí, por vezes esta produção seguia por caminhão com 4 a 5 toneladas para outras localidades do Planalto, sendo, em geral, o próprio produtor o motorista.
Uma característica dessas plantações que eram só de ‘Nanica’, é que elas eram feitas, nessa ocasião, ao longo das margens do Rio Ribeira, em suas partes mais altas (lomba do rio), usando a mesma metodologia de se plantar em baixo das matas, com a diferença que estas eram bem mais fracas. O tamanho das covas e das mudas eram os mesmos dos bananais tradicionais, assim como o desbaste, a condução e a colheita. Se o bananal não era familiar, tudo era feito por empreitadas. Nessa região não houve instalação de Decauvilles, pois o terreno era mais firme e os bananais não atingiam distâncias maiores do que 200m das margens do rio. Dessa forma, os cachos colhidos eram transportados nas costas e amontoados ao longo do rio, nos locais de embarque. Com o passar dos anos, os bananais avançaram para áreas mais longe do rio e houve necessidade de se abrir carreadores, onde carroções puxados por cavalos ou bois levavam os cachos até aos locais de embarque.
Os barcos da Sorocabana, depois de carregados, entravam pelo seu afluente Rio Juquiá, até a cidade de Juquiá, onde os cachos, sem embalagem, eram transferidos para as gôndolas da ferrovia e seguiam para exportação por Santos ou para o mercado de São Paulo. O sistema de comercialização seguia a mesma rotina daquela usual na linha Santos-Juiquiá, com os intermediários ditando as normas e os preços.
A fertilidade desses solos era muito grande, o que dispensou a adubação durante os primeiros 15 anos de plantio.
Em 1942, com a construção das estradas de terra intermunicipais feitas pelo Governo do Estado, toda a região do Vale do Ribeira, que já tinha mais de 15 milhões de bananeiras e que era atendida pela navegação da Sorocabana, fez com que os produtores passassem a transportar, progressivamente, os cachos em caminhões com 4 a 5 toneladas, para o mercado da Grande São Paulo, que já era de 7 milhões de habitantes.
As balsas que existiam nos Rios Ribeira e Juquiá, que limitaram a tonelagem dos caminhões até 1960, foram eliminadas com a construção de duas pontes que ficaram em seus lugares e com isso as capacidades de carga aumentaram, fazendo com que a navegação Sorocabana fosse abandonada e em seguida desativada.
Tendo nessa mesma ocasião ficado pronta a ligação rodoviária asfaltada de Juquiá para Santos, possibilitou que os caminhões com cachos produzidos em ambos os Vales do Ribeira e Juquiá e também parte daqueles da Baixada Santista, chegassem até ao cais. Em poucos anos o transporte pela ferrovia acabou, pois era mais fácil carregar o caminhão ao longo dos bananais e chegar diretamente no cais e também em São Paulo.
Com o aparecimento da sigatoka amarela, que em 1960 já se expandira por todos os bananais de Santos e Vale do Ribeira, houve necessidade de se fazer o seu controle, que era bem mais fácil nos bananais das baixadas. Nessa ocasião, a Linha Santos-Juquiá já tinha cerca de 6 milhões de bananeiras. Foram então estabelecidos programas de controle da sigatoka amarela para os produtores, usando atomizadeiras costais importadas e ou de padiolas nacionais ou aclopadas ao trator, feitas aqui, especialmente para esse novo problema e ainda por via aérea com aviões equipados com microners e helicópteros com barra, principalmente nos bananais de várzeas.
Muitas partes dos bananais de morro da Linha Santos-Juquiá foram abandonadas e os das baixadas mecanizáveis tiveram suas densidades de plantio aumentadas e mais tecnificadas, de modo que a produção se manteve no mesmo nível.
Em 1968, os produtores das regiões litorâneas tiveram que enfrentar um grande problema em suas plantações, com o aparecimento da perturbação fisiológica nutricional denominada “azul da bananeira”, que chega a anular totalmente a produção. Esses bananais que já superavam a casa dos 10 milhões de pés vinham sendo adubados com misturas de NPK, há mais de 20 anos. A pesquisa feita pelo Eng. Agro. Raul Moreira, do IAC, evidenciou que o “azul da bananeira” estava ocorrendo devido a falta de calagem, que foi corrigida com imediata aplicação de cinqüenta mil toneladas de pó calcário dolomítico em todos os bananais. Este corretivo que era ainda inexistente na região, teve de ser transportado a granel de Piracicaba até Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, por ferrovia, por cerca de 300 km. Uma vez tendo chegado no local da entrega, o calcário era baldeado para os chatões e depois para as vagonetas e então distribuído a mão, em todos os bananais. Isto fez com que as atividades das fazendas fossem paralisadas por quase seis meses, mas felizmente, um ano depois já se obtinha uma ótima produção. O reflexo disto foi que imediatamente a calagem passou a ser feita também pelos produtores da Linha Santos-Juquiá e Vale do Ribeira.
Depois de 1960, passou-se a usar a embalagem dupla, que consistia em envolver o cacho colhido com um tubo de polietileno perfurado e em seguida com a manta de tabua.
Quando a embalagem simples e depois a dupla começou a ser utilizada as outras regiões, o mesmo foi feito para os cachos colhidos no Vale Ribeira. As evoluções que os bananais do Litoral tiveram, o mesmo aconteceu com aqueles 20 milhões do Vale do Ribeira.
A partir de 1960, com o apoio da Cooperativa Central de Bananicultores do Estado de São
Paulo (CCBESP) foi introduzida a caixa de madeira, para a embalagem das pencas destinadas ao mercado interno, denominada "torito", as quais eram preparadas dentro do bananal, sem se lavar as pencas. O nome e o tipo da caixa torito foi importado da Argentina, pelo Eng. Agro. Luiz Carlos de Barros Novita, da Secretaria da Agricultura de São Paulo, onde ela já era utilizada para distribuir os cachos importados e transformados em pencas. Este modelo de caixa teve grande aceitação, sendo hoje usada, praticamente, em todo o Brasil. A exportação, por sua vez, passou também a ser feita em pencas embaladas dentro do bananal, em caixas iguais as do tipo "torito", feitas de aglomerado de madeira (Duratex), fechadas em cima por uma faixa pregada do mesmo material. Esta embalagem ainda hoje é utilizada. Usaram-se também caixas de madeira denominadas "cubitos" com 30 kg, as quais eram feitas com taboas finas espaçadas e sua tampa fechada com uma cinta de arame. As injurias que as bananas sofriam dentro do cúbito eram tais que fez com que o mesmo viesse a ser abandonado.
Em 1962-64, pretendeu-se introduzir a caixa de papelão comum, para a embalagem das pencas a serem exportadas mas, devido seu alto preço e o reduzido número de galpões de embalagem, ela não se consolidou. Porém, mais recentemente, ao se fazer as exportações para a Inglaterra, elas voltaram a ser utilizadas, já no padrão internacional.
Com a introdução dos toritos em 1960, também no mercado interno, os cachos colhidos passaram a ser despencados e embalados dentro do próprio bananal e a venda deixou, progressivamente, de ser feita em cachos e as entregas de banana passaram a ser realizadas diretamente pelos produtores aos atacadistas maturadores de várias localidades. Os toritos eram, e ainda são usados nas vendas aos feirantes, quitandeiros e supermercados.
Foi de 1960 a 1970 o período áureo da expansão geográfica da bananicultura no Litoral Paulista e Vale do Ribeira.
Pode-se atribuir a abertura da rodovia BR 116 em 1962-64, como responsável pela atual expansão dos plantios de banana em todos os municípios do Vale do Ribeira, onde existe hoje, bananais com as melhores tecnologias de produção do Brasil.
Nessa ocasião, um grupo de Engenheiros Agrônomos, liderados pelo Eng. Agro. Jayme Vazquez Cortez, atuando junto aos produtores, foi capaz de difundir novos conceitos e técnicas de cultivo que provocaram a melhoria da qualidade e o aumento da produtividade dos bananais.
A partir de 1960, houve substituição da ‘Nanica’ (‘Dwarf Cavendish’) por diversos clones da ‘Nanicão’ (‘Giant Cavendish’), em face das suas melhores qualidades e também pelos melhores preços obtidos tanto no mercado interno como no externo. A introdução da ‘Grande Naine’ só ocorreu dez anos depois com mudas importadas pelo Eng. Agro. João Adelino Martinez, do Instituto Biológico. Além dessas trocas de cultivares, em 1980, iniciou-se a introdução da cultivar ‘Prata Anã’(‘Prata anã’) com mudas vindas de Santa Catarina. A aclimatação dessa cultivar, em áreas completamente diferentes daquela de sua origem (Criciúma, SC), tem sido boa e os produtores e os consumidores a têm aceitado muito bem.
Simultaneamente com a introdução do torito, em 1960, a Cooperativa Central dos Bananicultores do Estado de São Paulo, aproveitando as antigas instalações do prédio do Serviço de Imigração e Colonização e do apoio do Dr. Herbet Levy, Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, grande entusiasta do cultivo da banana, montou no país, a primeira câmara de climatização, termo criado pelo Eng. Agro. Ernesto Bleinroth, do ITAL, que significa o amadurecimento usando o gás ativador etileno, com temperatura e umidade controladas, o que já era utilizado em outros países.
Atualmente a comercialização nos grandes centros, é feita só em caixas contendo pencas ou buquês de bananas, que foram climatizadas usando como gás ativador o etileno ou o álcool, as quais são um pouco maiores do que o torito original, para melhor se acomodar os 20kg de frutas ou ainda em caixas de plástico reciclado com 25 kg. Há também a ½ caixa com 13 quilos, usada para embalar buquês de melhor qualidade para mercados mais exigentes.
As pesquisas para o controle da sigatoka amarela feitas, a partir de 1960, pelo Eng. Agro. João Adelino Martinez, do IB, possibilitaram o uso das misturas dos fungicidas sistêmicos ao óleo mineral, que aumentaram a eficiência das pulverizações e o alongamento dos intervalos de suas realizações. Além disso, foram ministrados cursos aos extensionistas e produtores sobre a evolução da moléstia, seu monitoramento definindo quando seria necessário iniciar e também terminar as pulverizações.
Com a implantação, em 1969, da CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), as vendas que eram realizadas na “praça da banana” e na do Mercado Municipal, passaram a ser feitas pelos próprios produtores, que transportavam todos os dias entre duzentos a duzentos e cinqüenta caminhões de cachos a granel, contendo em média dez toneladas, cuja comercialização era só por tonelada, sendo que seu valor oscilava, diariamente, com o mercado . A CEAGESP é ainda hoje, uma das maiores do mundo, recebendo diariamente mais de dez mil toneladas de frutas, legumes, pescados e flores. Atualmente, a venda de cachos a granel já não existe mais, pois salvo aqueles que se destinam às fábricas de doces, toda ela é feita em toritos de madeira ou de plástico. As comercializações são feitas diretamente pelos produtores com os supermercados, feirantes e também com intermediários que abastecem a periferia das cidades, porém todas as pencas ou buquês passam por uma câmara de climatização.
Diante dos bons resultados obtidos com as novas metodologias de cultivo para aumentar a produtividade e a comercialização, a partir de 1970, os agricultores ficaram mais acessíveis a outras práticas agrícolas como a reforma periódica dos bananais e ainda ao uso de mudas produzidas por biotecnologia.
Os novos plantios passaram a ser feitos conforme recomendava o Eng. Agro. Raul Moreira, do IAC, em áreas mecanizáveis onde era possível utilizar-se das melhores tecnologias, tais como o preparo do solo juntamente com a calagem e a adubação baseadas na análise de solo, a abertura das covas com sulcadores, espaçamentos entre as mudas mais reduzidos, o desbaste deixando uma só família por cova, o uso de micronutrientes aplicados no interior dos filhos desbastados com a “lurdinha” e misturados com nematicidas para controle da broca das bananeiras e dos nematóides e ainda, o combate às ervas daninhas que vinha sendo feito por meio de roçadas ou capinas, passou a ser feito com herbicidas de contato, residual e ou sistêmico.
Os bananais tecnificados possuem hoje cabos aéreos, os cachos são protegidos com sacos plásticos, os galpões de embalagem transformam os cachos em pencas ou buquês com 6 a 8 bananas, que são banhados em solução coagulante da seiva e em fungicidas, antes de serem embalados nas caixas. O transporte delas é feito em caminhões fechados ou em jamantas frigorificadas, quando a distância do mercado consumidor é maior do que 200 km.
Atualmente já há muitos produtores que ensacam os cachos logo após o florescimento para melhorar a qualidade da banana e ter os benefícios de abreviar o tempo de colheita e reduzir os prejuízos do “chilling” e de pragas. Foi uma grande evolução.
A sofisticação do transporte internacional das bananas de exportação começou em 1901, com a utilização de navios refrigerados, mas foi a partir da 2ª Guerra Mundial que ocorreram as maiores evoluções, culminando com os atuais “containers” frigorificados (diesel/elétricos), automáticos, pré-reguláveis, capazes até mesmo de processarem o amadurecimento das bananas embaladas em caixas de papelão, durante seu transporte dos galpões de embalagem até ao mercado consumidor, sem a interferência de operadores.
Com a construção de novas rodovias (BR-101 e 116) em 1962-64, nas fazendas do Litoral Sul foram construídas estradas internas ligando os bananais as auto-estradas e com isso as exportações para a Argentina e Uruguai passaram a ser feitas em caminhões frigoríficos (jamantas), que levam de 800 a 1.000 caixas de pencas contendo 20 kg, do tipo torito de Duratex revestidas com papelão ou com uma manta de plástico. Aqueles que vão para a Argentina, geralmente retornam com maçãs. A facilidade de se carregar o veículo na propriedade e descarregar na câmara de climatização do importador, reduziu o tempo viajem de 10 a 12 dias que eram gastos pelos navios para 3 a 4. Mais recentemente têm-se tentado fazer este transporte no sistema “rol-on-rol-off” (“ro-ro”), via porto de Santos, usando containers frigorificados, visando melhor apresentação do produto e redução do frete.
Este progresso rodoviário provocou a desativação por completo do sistema ferroviário da Sorocabana, em 1997.
A partir de 1990, os plantios de banana no Litoral começaram a ser abandonados devido a especulação imobiliária e dificuldades na obtenção da mão de obra.
Depois de l970, vários agricultores de diversas regiões do Planalto de São Paulo, tentando diversificar suas lavouras e em face dos elevados preços pagos pelo frete para o transporte da banana até seus mercados locais e ainda pelo grande crescimento que os mesmos tem tido, iniciaram plantios delas com a cultivar Nanicão. Nestes plantios, os produtores estão aplicando as mais recentes práticas agrícolas, inclusive a da irrigação que é feita por meio de gotejamento, miroaspersor, miniaspersor, aspersores fixos ou móveis de baixa e alta pressão e também do pivô central. Essas novas áreas, por não precisarem ser drenadas e terem facilidade de mecanização, o programa de reforma periódica do bananal passou a ser feito de modo mais generalizado, havendo casos de agricultores plantarem em altas densidades (3.500 a 4.000 pés/ha) e fazerem uma única colheita.
A chegada da sigatoka negra em 2004, nos bananais do Estado de São Paulo, está fazendo com que novas cultivarem resistentes ou tolerantes a ela, começassem a ser plantadas a fim de que não haja necessidade de se fazer pulverizações, tanto no Vale do Ribeira como no Planalto. Entretanto, tem havido casos de novas cultivares que não são aceitas pelos consumidores.
A sigatoka negra no planalto, onde o clima é mais seco, tem seu desenvolvimento prejudicado, despertando com isso maior interesse dos agricultores em ampliar seus plantios ou mesmo começar a fazê-los.
No Planalto, o controle da sigatoka negra é feito com apenas 60% do número de pulverizações do que no Vale do Ribeira. é uma situação real que tem como limitante apenas a viabilidade ou não da irrigação, porém poderá trazer para as regiões tradicionalmente produtoras, Litoral Santista e Vale do Ribeira, um problema muito difícil, uma vez que para elas as lavouras alternativas a serem feitas são bem pequenas. Atualmente, no Planalto já existem mais de 20 milhões de bananeiras, das quais estima-se que 10% sejam da cultivar Maçã.
Depois de 1925, com o aparecimento do mal do panamá que dizimou os que bananais da cultivar Maçã na Baixada Fluminense, cujas mudas foram trazidas da Guiné e do Gabão em 1567, a área de maior produção passou a ser Piracicaba, SP., com quase um milhão de plantas em 1933. O interesse pela ‘Maçã’ sempre foi grande, uma vez que ela é, em geral, para os brasileiros, a que tem o melhor buquê de todas as bananas, a despeito de algumas vezes acontecer o aparecimento de “pedras” em sua polpa, o que a torna imprópria para consumo. Esta perturbação fisiológica decorre da falta da aplicação do micronutriente boro nas plantas, que deve ser aplicado preferencialmente, no interior das bananeiras.
Essa área de produção de Piracicaba com a ‘Maçã’, existiu por pouco tempo, pois as mudas, segundo consta, foram arrancadas de bananais que eram sadios “visualmente” e transportadas por ferrovia. Sendo a cultivar Maçã bastante exigente em clima e solo, em pouco tempo ela mostrou que a região não era apta para seu cultivo e ainda que o mal do panamá viera com as mudas, o que já era de se esperar. O resultado desses plantios foi que em menos de dois anos depois da constatação do fusário em 1933, eles também desapareceram. Com isto criou-se o conceito de que a banana ‘Maçã’ só pode ser plantada em terras que nunca tenham sido utilizadas com essa cultivar, para se ter colheitas durante algum tempo e que o seu alto preço de venda justifica seu nomadismo. O fato é que na década de 60, os plantios da ‘Maçã’ já tinham atravessado todo o Estado de São Paulo, passando a serem feitos no Estado de Mato Grosso, Goiás e tendo chegado a Rondônia. Fato semelhante ao vivido em Piracicaba, ocorreu com os plantios feitos na mesma ocasião, no Estado de Minas Gerais, cujas mudas também tiveram como origem bananais da Baixada Fluminense.
Devido a intolerância da cultivar Maçã ao mal do panamá, muitos produtores têm recorrido às mudas produzidas por biotecnologia, na expectativa de conseguir um período mais longo de produção, em áreas virgens, mas isto pouco tem adiantado. Atualmente, o mercado da Grande São Paulo e de outras metrópoles recebem banana ‘Maçã’ e ‘Terra’ principalmente de Rondônia (3.000 Km), vindas por rodovias asfaltadas, nem sempre embaladas. Os novos híbridos de Maçã recém criados, são ainda uma esperança para os consumidores e os produtores, que têm plantado centenas de hectares no Planalto, os quais ficaram mais de trinta anos sem seu cultivo.
O Estado de São Paulo é o maior produtor de bananas onde predominam as cultivares do subgrupo Cavendish. Atualmente, tem cerca de 62 mil hectares de bananeiras em pouco mais de 10 mil propriedades, os quais estão no Litoral ( 6,8 mil ha) e Vale do Ribeira (41,6 mil ha) em 48,4 mil ha, que correspondem a 78% da área do Estado e no Planalto em 13,6 mil ha, ou seja 22%.
Pela cronologia de novas cultivares surgidas no Estado temos a cultivar Nanicão, uma mutante da ‘Nanica’, que apareceu em Santos entre 1850 e 1900, sem ser possível ter-se maior precisão. Mutações como esta têm ocorrido várias vezes e com isto pode-se identificar outros seus cultivares com aparências diferentes, tais como o porte, deiscência dos restos florais masculinos, tamanho do pseudocaule, etc.
Outra cultivar que já é conhecida há mais de 60 anos é a ‘Branca do Itimirim’, sem que seu identificador Sr. Ives Margarido de Castro, tivesse lhe dado maior importância. Ela é igual a ‘Branca’ na sua morfologia, porém tem elevada tolerância à sigatoka amarela e tem se revelado com igual comportamento quanto à sigatoka negra.
Merece destaque também a cultivar Platina, que surgiu em Macaubal, SP, em 1967, em uma plantação de ‘Maçã’, que morreu com fusário, onde havia ainda algumas bananeiras ‘Nanica’ e por ela ser medianamente tolerante a essa enfermidade, conseguiu sobreviver. Este híbrido natural, tetraploide (AAAB), foi identificado e assim denominado pelo Eng. Agro. Raul Moreira, por ter um nobre paladar doce e levemente ácido, que lembra os dois cultivares citados.
Outra cultivar que apareceu no início da década de 70, em Arandu, SP., foi a ‘Nanicão Jangada’, que é uma mutante originada de uma ‘Nanicão’ coletada em Eldorado Paulista, que perdeu cerca de 80 a 100cm de altura, porém o diâmetro de seu pseudocaule aumentou, equivalendo ao da cultivar Grande Naine. Conservou o mesmo tipo de roseta foliar da planta original, o que torna mais fácil o lançamento da inflorescência. As pencas não são tão imbricadas como as da ‘Nanicão’ típica. A ráquis masculina é quase 100% sem restos florais e bem reta. Ela apareceu na Estância Jangada, em Arandu, do primeiro maior produtor de bananas do Planalto, Sr. João Manuel Fernandes e foi assim denominada, pelo Eng. Agro. Raul Moreira, como homenagem e alusão ao nome da propriedade.
A mais recente cultivar identificada foi a ‘Nanicão IAC 2001’, entre mudas que tinham sido multiplicadas, em 1995, na Seção de Genética do IAC, a partir da ‘Nanicão’, por biotecnologia e que foi selecionada pelo Eng. Agro. Raul Moreira. Esta cultivar conservou praticamente todas as características morfológicas da ‘Nanicão’, porém a coloração de suas folhas é levemente acinzentada e o lóbulo folhar que se desenrola posteriormente, é de 18 a 20% mais estreito. Sua melhor característica é ser a primeira Cavendish altamente tolerante às sigatokas amarela e negra, dispensando com isto qualquer pulverização, para as regiões subtropicais.
3. A banana no Estado de Santa Catarina.
Os primeiros plantios de banana em Santa Catarina começaram sendo feitos e continuam ainda nas encostas da Serra do Mar, a fim de se reduzir os prejuízos com o frio. Porém, há várzeas aluviais, bem próximas ao mar, que também têm sido plantadas, pois aí os efeitos do frio são menores.
à semelhança das demais regiões bananeiras do Brasil, as catarinenses também se formaram em função dos engenhos de açúcar e da mandioca.
A colonização de Santa Catarina começou efetivamente com a chegada dos portugueses dos Açores, durante a primeira metade do século XVII, ocasião em que o atual território Estadual não tinha cidades ou agricultura. No litoral contavam-se apenas três vilas insignificantes, com poucas dezenas de casas. Entre 1829 a 1871 chegaram os alemães, italianos e depois os poloneses. O importante é que eles se entrosaram e viveram e vivem como se fossem uma só comunidade. As propriedades são pequenas, em torno de 6 hectares, que utilizam basicamente a mão de obra familiar.
Quando há necessidade de se fazer uma atividade que precise de mais pessoas, eles se reuniam e trabalhavam coletivamente, no que chamam de mutirão (que vem do tupi muxirão que significa auxílio mútuo). Com isto criou-se um grande espírito de cooperativismo.
O Estado é um dos principais produtores de banana do Brasil, com cerca de 660 mil toneladas/ano. Apesar das condições de clima serem desfavoráveis ao cultivo, pois a região está no subtrópico, seus bananais destacam-se pela produtividade.
As principais cultivares são do subgrupo Cavendish (90%) e do subgrupo Prata.
A bananeira é a principal frutífera, em área cultivada no Estado e socialmente com importância muito grande. Estima-se que cerca de 25.000 produtores rurais explorem a cultura, seja como atividade principal, seja como componente da renda da propriedade ou como agricultura de subsistência, gerando aproximadamente 30 mil empregos diretos, com produtividade média de 22 t.
Além do fator constante das propriedades serem pequenas, houve ainda a presença marcante da cultivar Branca em todo lugar, antes do início da evolução das tecnologias de produção. Essa cultivar, pelo seu porte alto, permitia que fosse explorada de uma forma quase extrativista nas fortes encostas da Serra do Mar.
A bananicultura catarinense pouco mudou do início do século XX até a década de 40, porém com a expansão dos plantios da cultivar Enxerto, houve uma grande evolução tecnológica, que culminou com a comercialização das bananas somente em toritos.
Devido as características de cultivo e exploração, é possível dividir-se o Litoral do Estado em três grandes regiões produtoras: Norte, Centro e Sul.
Litoral Norte - é a principal região produtora de bananas de Santa Catarina, sendo responsável por 25,6% da produção estadual daquelas do subgrupo Prata (‘Enxerto’ e ‘Branca’) e por 93,2% da produção estadual de bananas do subgrupo Cavendish (‘Nanicão’, ‘Grande Naine’, ‘Nanica’ e ‘Imperial’) e por 80,5% da produção total de bananas do Estado. A área cultivada representa 64,8% dos bananais catarinenses.
Existem ainda na região pequenos bananais das cultivares Mysore, Figo, Maçã, Terra, Ouro e D'Angola.
Apenas a partir da década de 70, do século passado, as cultivares do subgrupo Cavendish passaram a ser largamente difundidas, devido a um trabalho da assistência técnica oficial. Como essas cultivares podiam ser plantadas em áreas onde aquelas do subgrupo Prata apresentavam pequena longevidade, devido à ocorrência do mal do panamá, a bananicultura catarinense experimentou nova fase de crescimento, especialmente no Litoral Norte do Estado, dos anos 70 até o início da década de 90.
Com a maior exigência tecnológica das cultivares do subgrupo Cavendish, as décadas de 80 e 90 foram de tecnificação dos bananais, através de um trabalho da pesquisa e da assistência técnica oficiais de Santa Catarina, causando grande melhoria qualitativa do produto.
Nessa ocasião, cerca de 10% dos produtores catarinenses realizaram cursos profissionalizantes em bananicultura e formaram as associações municipais de bananicultores e foram construídas as casas de embalagens nas regiões produtoras.
Nos últimos anos, tem havido substituição de algumas áreas de bananais do subgrupo Cavendish pela bananeira 'Enxerto'.
A tecnologia adotada nesta região, é a mais avançada do Estado, com grande parte dos produtores utilizando o tratamento de mudas, o desbaste e a desfolha com freqüência, a poda de pencas, a poda do coração, o escoramento das plantas, a adubação química e a orgânica, a calagem, o ensacamento dos cachos, o controle de plantas daninhas com herbicidas e o controle do mal das sigatokas. Cerca de 25% dos bananais são pulverizados por aviões agrícolas, aplicando óleo com fungicidas sistêmicos e os demais com atomizadeiras costais motorizadas. A adubação química chega a ser de 2.000 kg/ha/ano formulados em N-P-K. Há cerca de 5 anos, iniciaram os cuidados pós- colheita, sendo freqüente o uso de casas de embalagens e a proteção dos cachos durante seu transporte, nas carretas. Começam a ser implantados os primeiros sistemas de transporte de bananas por cabos aéreos.
A produtividade média é de 12 toneladas por hectare para bananas do subgrupo Prata e de cerca de 26 toneladas por hectare para bananas do subgrupo Cavendish. Nesta região existem bananais que chegam a produzir cerca de 80 toneladas por hectare por ano.
Litoral Centro - Esta região é caracterizada pela exploração de pequenas áreas de bananais, em um sistema semi-extrativista. Entretanto, como exceção, há alguns bananais do subgrupo Cavendish, que recebem cuidados parecidos com aqueles do Litoral Norte.
A região é responsável por 16,1% da produção catarinense de bananas do subgrupo Prata, por 2,4% da produção estadual de bananas do subgrupo Cavendish e por cerca de 5% da produção catarinense de bananas. A área cultivada representa 8,3% dos bananais catarinenses. As cultivares mais plantadas são as do subgrupo Prata (‘Branca’ e ‘Enxerto’). A banana ‘Nanicão’ é a principal cultivar do subgrupo Cavendish. Existe ainda pequenos bananais e cultivos de fundo de quintal das cultivares Figo, Mysore, Ouro, Maçã, Terra, D'Angola e Caru roxa.
A tecnologia adotada em maior parte desta região, é quase nula. Nas plantações de banana ‘Branca’ faz-se apenas o plantio em espaçamentos amplos, uma roçada anual e a colheita. Alguns produtores utilizam a adubação orgânica. Inicia-se nessa região a comercialização da "banana orgânica", amadurecida naturalmente, o que tem aumentado significativamente a renda do produtor.
A produtividade média é de 9 toneladas por hectare para bananas do subgrupo Prata e de 20 toneladas por hectare para bananas do subgrupo Cavendish.
Litoral Sul. Nessa região, há ocorrência de ventos fortes e contínuos e de baixas temperaturas no inverno. Por essas razões, os plantios encontram-se 100% em encostas de morros e com predominância quase total da cultivar Enxerto. A região é responsável por 58,3% da produção catarinense de bananas do subgrupo Prata, por 4,4% da produção de bananas do subgrupo Cavendish (‘Nanicão’). Existe ainda na região, poucos e pequenos bananais das cultivares Mysore e Figo e pequenos cultivos em fundos de quintais, com a ‘Maçã’ a ‘Figo’ e a ‘Branca’.
A tecnologia adotada nessa região, é intermediária entre a do Litoral Norte e a do Litoral Centro, com variações desde o semi-extrativismo até o uso da melhor tecnologia existente.
A produtividade média é de quase 10 toneladas por hectare para bananas do subgrupo Prata e de 17 toneladas por hectare para bananas do subgrupo Cavendish.
A ocorrência de nematóides, em alguns casos, contribui para um alto índice de tombamento de plantas. A competitividade dessas bananas é baixa em relação àquelas produzidas noutras regiões. Com a queda dos preços da banana nos últimos dois anos, houve o abandono ou a erradicação de alguns bananais do subgrupo Cavendish. Apenas no município de Jacinto Machado, mais de 1.000 hectares de bananais foram abandonados.
Destino da produção catarinense - De 1999 até os dias atuais, Santa Catarina vem sendo responsável por mais da metade da banana exportada pelo Brasil. As exportações destinam-se principalmente aos países do Mercosul, porém é nos mercados sulinos nacionais onde são feitas as maiores vendas.
A exportação varia bastante, em função dos preços internos e do abastecimento do mercado platino por bananas de outros países, principalmente a equatoriana.
A industrialização de bananas em Santa Catarina é bastante significativa. São diversas indústrias que produzem banana passa (desidratada), balas, doces, purê acidificado, licores e outras bebidas, bananada, chips e outros produtos.
A indústria Duas Rodas, em Jaraguá do Sul, que tem 80 anos, é a principal processadora de bananas do Estado, produzindo purê asséptico (85% da produção), fatiado (10%) e flocos de banana (5%). O destino do purê é a exportação para a Europa (50%), os Estados Unidos (20%), o Japão (20%), a América do Sul (5%) e o mercado brasileiro (0,5%). A produção de fatiado e de flocos é totalmente exportada para a Europa.
O consumo de bananas pelas pequenas indústrias é mais estável, mas depende muito do preço e da oferta da banana no mercado interno.
A indústria Duas Rodas, que necessita competir no mercado externo, sofre mais esses efeitos. Desta forma, a variação do seu consumo e industrialização oscila muito.
A partir de 1996, a Duas Rodas passou a processar "banana biológica", para a exportação. Atualmente 38,9% da sua produção é feita a partir dessa banana.
Nos três últimos anos também aumentou a comercialização de banana catarinense nos Estados de São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
O espírito do povo catarinense, como já foi dito acima, é de trabalhar sempre em conjunto, fazendo mutirões, o que ajuda a formação de associações.
Foi na década de 90 que floresceram as dezenove associações municipais, regionais e estadual de bananicultores, que congregam mais de mil deles e que promovem encontros, reuniões, seminários, palestras, etc. Fazem compras conjuntas de insumos e também a venda da produção.
Neste ponto reside a importância da organização de produtores, para auferirem maiores lucros da sua atividade.
Um diferencial entre o bananicultor catarinense e o de outras regiões é, além da exploração da propriedade quase sempre pela própria família, a busca constante por inovações tecnológicas e por componentes que aumentem a renda do produtor.
Na década de 1860, em Crisciuma, Sul de Santa Catarina, segundo referências verbais, apareceu em uma plantação da cultivar Branca e de outras mais, uma nova mutante, porém uma outra fonte conta que foi no final desse século, nos municípios de Imaruí, SC. e Imbituba, SC., que isto ocorreu.
Essa nova cultivar despertou interesse entre os plantadores, por ela apresentar características bem diferentes da banana ‘Branca’. A planta no seu todo lembra uma vigorosa bananeira ‘Nanicão’ de porte médio, porém seu cacho se assemelha muito ao da banana ‘Branca’ (Moreira, 1999). Em face disso os agricultores imediatamente a batizaram com o nome de “Enxerto” por suporem que essas cultivares crescendo conjuntamente na mesma área tivessem se “enxertado” espontaneamente.
A planta “Enxerto” foi multiplicada vegetativamente pelos agricultores e distribuída inicialmente pelo Sul de Santa Catarina e posteriormente, para a região do Litoral Norte.
Nas condições frias e ventosas do Sul de Santa Catarina a bananeira 'Branca' enfrentava problemas de cultivo. Sendo muito resistente aos ventos e ao frio, a 'Enxerto' se estabeleceu rapidamente, passando a ser a principal cultivar do Estado, já na década de 50 do século XX.
Sua boa aceitação comercial fez com que hoje, ela seja encontrada em todo o Brasil e também em outros países, porém com o nome de ‘Prata anã’. é comum compradores de mudas de laboratório da ‘Prata anã’, reclamarem que apareceram plantas que regrediram à forma original da ‘Branca’ (Moreira, 1999). Outro fato que confirma sua origem é que tanto na banana ‘Branca’ como na ‘Enxerto’, ocorre o “chochamento” (também conhecido por inguirin) de frutos e de pencas, aleatoriamente, por não ter havido a partenocarpia, o que não é comum nas demais cultivares. No Projeto de Irrigação de Janaúba, MG., há cerca de 15 mil ha de ‘Enxerto’.
A cultivar Nanica que também é chamada de ‘Caturra’, é tida como existente no Estado desde o início do século XVI, logo após sua introdução no país. Ela não despertou interesse nos produtores, pois era muito prejudicada com as baixas temperaturas, o que não acontecia com a ‘Branca’.
Há notícias da presença da ‘Nanicão’, na região de Jaraguá do Sul, em 1914. Algum tempo depois, sem ter sido possível localizar quando e onde, apareceu nessa região uma bananeira mais robusta em tudo do que a ‘Nanicão’, sendo cerca de um metro mais alta e produzindo cachos também maiores, a qual foi chamada de ‘Caturrão’. Devido a seu porte, não há grandes áreas plantadas com ela, a despeito de produzir facilmente cachos com 40 kg.
A EX-033 é uma seleção da banana ‘Enxerto’ (‘Prata anã’), do subgrupo Prata (AAB), resultante do trabalho de seleção clonal da Epagri. Avaliada em diferentes regiões do Estado de Santa Catarina, foi selecionada e foi lançada com o nome de Prata Catarina. Tem o rendimento superior ao da cultivar Enxerto, especialmente no primeiro ciclo, quando enche melhor os frutos e apresenta frutos mais longos. Assim como a cultivar de origem é suscetível à sigatoka amarela, porém apresenta um grau superior de resistência ao mal do panamá. Ainda não se dispõe de informações conclusivas a respeito de sua resistência à sigatoka negra. A planta tem praticamente o mesmo porte da cv. Enxerto, podendo ser cultivada nos mesmos espaçamentos e seguindo as mesmas recomendações técnicas. Produz cachos com média de 17 kg. Seus frutos são maiores, mais claros e com sabor semelhante aos das cultivares Prata e Pacovan.
A SC-079 é uma seleção da cultivar Nanica, do subgrupo Cavendish (AAA), resultante do trabalho de seleção clonal da Epagri. Avaliada em diferentes regiões do Estado de Santa Catarina, foi selecionada e está por ser lançada com o nome de Nanica Corupá. Sua principal característica é o porte baixo, intermediário entre a ‘Nanica’ e a ‘Grande Naine’. Tem o rendimento inferior à Nanica. Como a cultivar de origem também é suscetível às doenças sigatoka negra e sigatoka amarela, entretanto, é resistente ao mal do panamá. Pode ser cultivada em espaçamentos menores do que os da ‘Nanicão’, seguindo as mesmas recomendações técnicas. Produz cachos com média de 28 kg sendo resistente ao despencamento e os frutos são semelhantes aos da Nanicão.
4. A banana no Estado do Paraná.
Em 1545 já havia pequenos plantios de bananas no Litoral do Paraná, junto aos engenhos de cana de açúcar, porém somente no final do século XIX, a bananicultura veio a ser o produto agrícola mais importante na região, tendo em 1904, exportado 18 mil cachos e em 1907 a quantidade de quase 700 mil cachos, para os países da América do Sul. Atualmente o Estado tem mais de 10 mil ha com bananeiras, sendo pouco mais da metade no Litoral e o restante no Planalto.
No Litoral há duas regiões com características distintas.
- no Litoral Norte (Guaraqueçaba, Antonina, Morretes) ela conserva o sistema de produção quase que extrativista. As lavouras iniciais foram feitas por volta de 1850, no regime tradicional, plantando em baixo das matas roçadas, seguido da derrubada da mata, na mesma sistemática então usada em São Paulo. Eram lavouras pequenas, que foram assim conservadas através dos tempos, havendo algumas com mais de 50 anos, sem utilização de insumos ou reformas. A produção colhida era transportada por canoas ou tropa de burros, em cachos e comercializada nas cidades. Depois passou-se a usar também as caixas de madeira (torito). Nessa região, a produção orgânica vem tomando importância.
- no Litoral Sul (Guaratuba) onde a produção sempre foi intensiva, seguiu os moldes dos bananais do Norte Catarinense.
Mais recentemente, aproximadamente há 15 ou 20 anos, outras duas regiões vêem se destacando no Planalto:
- ao Norte (Andirá, Uraí, Cornélio Procópio) onde é expressivo o crescimento da produção, hoje responsável por aproximadamente um terço da área de plantio e da produção do Estado e,
- ao Oeste (São Miguel do Iguaçu, Itaipulândia, Missal, Foz do Iguaçu) com pequenas propriedades, praticamente familiares.
Nestas duas regiões, com solos melhores e agricultores bem estruturados, houve a adoção de sistema de produção mais intensivo e com todas as atuais práticas de cultivo.
Entretanto, o Litoral ainda é a região mais importante das áreas de produção, mas vem perdendo esta posição, sendo apenas pouco superior à região do Planalto.
Os novos plantios da ‘Maçã’ são feitos com mudas de laboratório. Para cultivares do subgrupo Cavendish tem sido mais freqüente o uso de mudas tipo pedaço de rizoma, retirados de bons bananais comerciais. Entretanto, algumas vezes, são usadas mudas de laboratório apenas na formação de viveiros, para sua multiplicação para posteriores plantios.
Nesses novos bananais tem sido feita a calagem e os espaçamentos de plantio variam conforme as condições locais, cultivares, comercialização, etc., mas em geral, a tendência é de se usar de 2,5 x 2,5 m para subgrupo Cavendish (‘Grande Naine’ e ‘Nanicão’) e 2,5 x 3,0m para ‘Maçã’, ‘Prata’, ‘Prata anã’, e ‘Thap Maeo’. é freqüente aplicar-se, no plantio, o esterco de curral ou cama de aviário.
Há alguns bananais irrigados no Norte, com bom desenvolvimento e produtividade. No Norte o controle da broca tem sido feito principalmente com produtos químicos em iscas tipo queijo. Quanto aos nematóides é feito apenas o tratamento das mudas. No Litoral, normalmente, não é feito controle de broca e dos nematóides, pois suas ocorrências não são altas.
O controle da sigatoka amarela é feito com óleo e fungicidas sistêmicos por seis a sete vezes, com tendências a aumentar, com base no monitoramento. Para a sigatoka negra faz-se o mesmo sistema, sendo que seus danos não são ainda muito acentuados.
O despencamento e a embalagem são feitos na maior parte dos bananais comerciais, nas casas de embalagem. A comercialização mais usual é em pencas, em caixas tipo torito, de madeira. Alguns casos, como a banana ‘Maçã’ para mercados específicos, tem-se utilizado caixas menores, de 13 kg de plástico. As câmaras de climatização são dos compradores.
5. A banana no Estado do Rio Grande do Sul.
A história do Rio Grande do Sul registra que em 1800 havia plantios de banana ‘Nanica’ e cana de açúcar e que em 1806 houve reclamações junto às autoridades municipais de Osório, que os negros escravos estavam destruindo plantios de cana de açúcar e banana. Em Torres, consta que o primeiro plantio de bananas foi em 1826 e em Três Cachoeiras em XVIII.
Entre 1829 a 1871 houve a chegada de imigrantes alemães, poloneses, italianos e portugueses que plantaram bananeiras.
Atualmente os principais municípios produtores encontram-se no Litoral Norte do Estado. Estima-se que nesses municípios existam quase 5 mil produtores que exploram a bananeira com fins comerciais.
A área plantada no Estado é de cerca de 11.000 hectares, sendo cerca de 9.600 hectares da cultivar ‘Prata Anã’(subgrupo Prata) e cerca de 1.400 hectares da cultivar Nanicão (subgrupo Cavendish). Não há cultivos significativos de outras variedades, a despeito de existir pequenas áreas remanescentes de antigas lavouras de cultivar Maçã e Terra.
A produção estadual de bananas no ano atinge cerca de 100 mil toneladas, sendo 71 mil toneladas do subgrupo Prata e 29 mil toneladas do subgrupo Cavendish.
No interior, onde os plantios são feitos nos morros com alta declividade para evitar as geadas, em solos pedregosos com média fertilidade, incidência de ventos fortes e contínuos e ocorrência de baixas temperaturas por períodos longos, a bananicultura, mesmo assim, ainda é uma das melhores alternativas de cultivo para o pequeno produtor.
Nessa região, existe uma parcela de produtores que nada ou quase nada aplica de tecnologia em seus bananais. São lavouras onde basicamente se faz o plantio, o controle de plantas daninhas (roçada ou capinas) e algum desbaste (conduzindo 2 a 3 famílias por cova) e realizam a desfolha (no mínimo uma anual). A maior parte dos produtores, normalmente, usa cerca de 300kg/ha/ano de adubo formulado em NPK e esterco de aves, não aplicam calcário. Não fazem combate à broca e aos nematóides. A sigatoka amarela é controlada com 3 a 4 aplicações de óleo mineral e fungicida sistêmico, com atomizadeiras motorizadas costais, não havendo a sigatoka negra.
O transporte dos cachos é feito por carroças ou camionetas, sendo o despencamento realizado em barracões na sede da propriedade, onde as pencas são embaladas em caixas de madeira com 15 kg e ou de plástico com 20 kg. A maturação é feita pelo comprador em câmaras de climatização. Alguns produtores fazem a reforma do bananal.
No Litoral, os plantios são feitos nas baixadas. Uma pequena parcela dos produtores investe bastante na cultura, com plantios na base de 2.000 pés/ha, com mudas adquiridas dos vizinhos, em geral do tipo filhote, quase sempre usando a ‘Prata anã’ e a ‘Nanicão’. Recentemente planta-se também muda de laboratório. Durante os plantios é feita a calagem, juntamente com esterco de aves. Posteriormente, aplica-se adubos químicos formulados em NPK (1.200 kg/ha/ano), faz-se o controle de plantas daninhas com herbicidas, desbaste rigoroso (uma família por cova), desfolhas freqüentes, poda do coração, escoramento de plantas (normalmente com fitilho), ensacamento dos cachos, controle do mal de sigatoka amarela (3 a 4 aplicações por ano de óleo mineral mais fungicidas sistêmicos), não se tendo notícias de sigatoka negra e o controle biológico da broca da bananeira. Não é usada a irrigação nem tão pouco micronutrientes.
A produtividade dos bananais deste grupo de produtores atinge, em média, 19 t/ha para a banana 'Enxerto' e 35 t/ha para a banana 'Nanicão'. Esses bons resultados têm motivado outros agricultores a fazer o plantio, aumentando continuamente esse grupo. Os demais produtores seguem o mesmo padrão daqueles do interior do Estado.
A produção de bananas do Rio Grande do Sul é comercializada no próprio Estado. Como existe um déficit de abastecimento, a diferença é importada de outros Estados, principalmente Santa Catarina.
A renda média do bananicultor é de cerca de três salários mínimos mensais, porém ele tem boa alimentação, moradia adequada, veículo e não se valem de empréstimos bancários para movimentar a exploração, fato que não os tem levado a situações de inadimplência, como em quase todas as demais explorações agrícolas.
A organização dos produtores ainda é incipiente, porém o Estado já conta com a ABAT (Associação dos Bananicultores de Torres) e uma Cooperativa Agrícola que comercializam parte da banana produzida na região.
6. A banana no Estado do Ceará.
O Ceará que tem atualmente cerca de 43 mil ha plantados com banana, sendo, dentro da fruticultura, a segunda maior área. Teve, inicialmente, seus maiores cultivos nos Perímetros Irrigados do Departamento de Obras Contra a Seca (DNOCS) do Governo Federal, com predominância da cultivar Nanica (‘Casca Verde’). A despeito disto havia a bananeira ‘Branca’ esparramada por todo o Estado.
No Ceará há duas regiões de produção de banana muito distintas: o Maciço de Baturité e o do Baixo Jaguaribe, que produzem banana em regime de sequeiro e irrigado, respectivamente.
A primeira região tem abastecido as feiras-livres, quitandas, mercearias e pequeno varejo da periferia da capital, onde predomina a população de menor poder aquisitivo, enquanto a segunda está mais voltada para o atendimento dos consumidores de renda mais elevada que se abastecem nas maiores redes de supermercado. Apenas a região do Baixo Jaguaribe tem atendido às exigências dos supermercados porque contam com acesso a informação, utilização de tecnologia de irrigação e tratamentos pós-colheita adequados, que são alguns dos fatores responsáveis pela produção de uma banana com as características exigidas pelo consumidor.
Entretanto, o consumidor cearense tem preferência pela banana ‘Prata’, produzida em grande quantidade no Maciço de Baturité.
Esta é uma área localizada mais para o interior do Estado, a Serra de Baturité, distante cerca de 100 km da capital Fortaleza, que por volta de 1680, começou ser explorada com plantios de cana de açúcar. A altitude varia de 700 a 900 m o que proporciona um clima muito ameno no sertão. é uma região com clima semiárido, portando com dois períodos de chuvas bem definidos. Esse “maciço” como é chamado, foi um grande produtor de café. Com seu colapso, houve expansão dos plantios da banana cultivar Prata e Branca, com predominância desta, cujos primeiros bananais datam de mais de 80 anos. Os plantios foram feitos no meio dos cafezais abandonados. O espaçamento original foi de 4 x 4 m, sem nenhum controle do desbaste e por isso formaram-se grandes touceiras. Não se fazia e ainda não se faz a adubação e nem o combate à broca das bananeiras e muito menos o controle das sigatokas. Foi e tem sido, em suma, uma extração extrativista. A colheita era feita semanalmente, sendo que no primeiro semestre havia falta de bananas, pois é nessa ocasião que chove, porém, no segundo semestre fazia-se a colheita dos cachos que se formaram durante as chuvas. O transporte dos cachos era feito em jacás, no lombo dos animais até ao ponto de venda, onde processava-se o despencamento. O produtor fazia a venda por mil bananas, quase que só aos intermediários que eram donos dos animais, sem participar das vendas finais que se realizavam na cidade de Baturité, onde as pencas, sem nenhuma embalagem, eram acomodadas nos pequenos caminhões mistos e seguiam para Fortaleza. Estes, além da banana também transportavam pessoas e coisas mais, que seriam vendidas na Capital, causando muitas injúrias na casca até chegar ao seu destino. No mercado municipal ou mesmo em determinados locais, a maturação era feita, em 24 horas, por meio de pedras de carbureto de cálcio embrulhadas em papel jornal, formando pequenos pacotinhos, que eram colocados no meio das pencas. Estas eram classificadas pelo tamanho de suas bananas em 1ª, 2ª e 3ª fazendo amontoados isolados e em seguida cobertas com uma manta de plástico para que o gás não se dissipasse. As bananas em pencas eram comercialização por milheiro, conforme seu tamanho.
No Baixo rio Jaguaribe, próximo ao mar, em pequenas propriedades havia plantios de arroz, feijão e algodão. A partir de 1940, houve um grande plantio da ‘Nanica’, que utilizava só a mão de obra familiar, quase que exclusivamente para abastecer as indústrias de polpa de banana, pouco maiores do que as caseiras. A partir de 1950, todos os bananais eram irrigados com água retirada do subsolo em profundidades não maiores do que 10 metros, por meio de cata-ventos (moinho de vento) feitos de madeira, que precariamente executavam o serviço. A distribuição da água para inundação das quadras com 10 a 20 bananeiras separadas por uma pequena leira de terra, era feita por canais construídos em alvenaria, bambus e tubos de barro (esgoto). As folhas cortadas das plantas, assim como os pseudocaules após a colheita eram utilizados principalmente na alimentação do gado de leite e dos caprinos. A despeito desses plantios com a cultivar Nanica, a preferência do consumidor de Fortaleza, o maior mercado, sempre foi por cultivares do subgrupo Prata. Decorrente disto, durante algum tempo, seu abastecimento foi feito sempre por pequenos produtores localizados nas encostas da Serra de Baturité.
Foi a partir de 1978, que se começou a fazer a irrigação usando a técnica da microaspersão. Porém, depois de 1999, os plantios de banana no Baixo Jaguaribe passaram por grande melhoria com a introdução de mudas produzidas por meristema e das novas tecnologias de produção, todos os tratos fitossanitários, inclusive com pulverizações aéreas, manejo pós-colheita com a instalação de cabos aéreos, galpão de embalagem, usando caixas de plástico reciclado para embalar os buquês, câmaras de climatização, possibilitando assim uma melhor comercialização.
Tendo em vista a preferência do mercado de Fortaleza, na nova fase de plantios nessa região, os produtores optaram pelas cultivares Pacovan, Grande Naine, Williams, Prata anã (Enxerto) e Terra caturra. Esses produtores já chegaram a fazer algumas exportações das duas primeiras cultivares para a Inglaterra, dadas as facilidades que a Del Monte, do Baixo Açu (RN) tem lhes propiciado, uma vez que ela também tem interesse em criar no Baixo Jaguaribe, mais uma área de produção.
Vale a pena comentar que, segundo consta na voz dos bananicultores, na década de 1930, surgiu, na região de Pentecoste, em uma touceira da cultivar Branca, uma bananeira que era diferente e que dada a sua robustez e a boa aparência do cacho, o produtor fez sua multiplicação. Ela foi comercializada durante alguns anos sem possuir um nome, mas depois passaram a chamá-la de Pacovã. Em 1970, por ela já ser encontrada em diversos locais do Nordeste, por sugestão do Eng. Agro. Gerardo Magela Campos, a escrita do seu nome foi modificada para Pacovan, prevendo seu uso por outros povos que não tem o til (~) em sua ortografia. A aceitação comercial desta cultivar foi rápida, por produzir frutos semelhantes a cultivar Prata, porém maiores e com casca mais macia, menos sujeita às injúrias de transporte. No dizer do “bananeiro”, ela é boa por aceitar o “pisotear” durante o transporte, isto é, não se estragar “muito” com o fato de se sentar sobre ela durante o transporte.
Outra característica típica da cultivar Pacovan é que já estando madura a banana, seu pedúnculo continua verde, inclusive a almofada da penca. é uma cultivar que exige bastante calor e umidade para produzir cachos que chegam a ter mais de 40 kg e mais de 150 bananas, com comprimento de quase 20 cm. Em regiões mais frias, como no Sudeste, o ciclo de produção fica bastante alongado e as bananas menores e mais insípidas. Ela tem média tolerância ao mal do panamá, se cultivada dentro dos padrões recomendados para a bananicultura. Com a retomada do desenvolvimento do Baixo Jaguaribe, muitos produtores fizeram seu plantio.
7. A banana no Estado do Rio Grande do Norte.
O início dos plantios de banana no Rio Grande do Norte também faz parte do Brasil Colônia, pois desde essa época já havia plantios esparsos nos grotões, com predominância da cultivar Branca, misturada com alguma ‘Prata’, e de bananas tipo ‘Terra’, para auto abastecimento. Entretanto, no final do século XX encontravam-se outras cultivares como a ‘Nanica’, ‘Nanicão’, ‘Chifre’ (‘Terra’), ‘Ouro’, ‘Maçã’, etc., porém como touceiras de fundo de quintal. Sem dúvida alguma os potiguares dão preferência para cultivar Maçã, cuja produção é limitada pelo mal do panamá, que a tornou uma cultura nômade e aviltando seu preço no mercado, que paga normalmente três vezes maior do que as demais.
O Estado do Rio Grande do Norte tem duas regiões muito boas para o cultivo da bananeira: as várzeas aluviais profundas do Rio Açu, abaixo da sua barragem. é uma região semi-árida que envolve o município de Açu, que tem cerca de 6.600 km² e que fazia parte do antigo Perímetro Irrigado do Açu, conhecida como Baixo Açu e a outra a Chapada do Apodí que se localiza entre as divisa desse Estado com o Ceará e a Paraíba.
A região da Chapada do Apodi está com uma bananicultura ainda incipiente, mas que tem tudo para vir a ser, em um futuro muito breve, uma grande área produtora, pois o clima dificulta muito o desenvolvimento da sigatoka negra à semelhança do Baixo Açu.
Foi a partir de l991/92, que se iniciou o plantio comercial de bananas, no Rio Grande do Norte, nas margens do Rio Açu, com altitude de 27m. Fica distante do mar cerca de 30 km, onde se localiza a cidade de Macau, que infelizmente não tem um porto. Para se fazer a irrigação dos bananais, a água tem sido retirada do próprio Rio Açu, que, a despeito de ter suas águas represadas por uma barragem a 6 km da sede o Município, podem faltar quando ocorre uma grande estiagem. Este problema poderia ser contornado retirando-a do subsolo, mas seu manancial subterrâneo de boas águas está a mais de 700 metros, o que teria um elevado custo. Esses plantios foram feitos inicialmente por uma organização brasileira (Directivos S.A.), a qual foi comprada pela Del Monte S.A., com intuito de exportar a produção para a Europa. Esta organização instalou os bananais em cerca de 3.000 ha, com toda a atual tecnologia existente, fazendo a drenagem, preparo do solo, sulcando para o plantio das mudas de meristemas vindas de Costa Rica e de Israel. Foram instalados cabos aéreos, irrigação por meio de microaspersão, que posteriormente foi substituído por gotejamento e galpões de embalagem completam. Foram utilizadas as cultivares Grande Naine, Williams, Pacovan e Maçã. No início do bananal as colheitas eram de pequeno porte e por isso foram comercializadas no mercado interno do Nordeste e de São Paulo também. Os plantios de ‘Maçã’, a despeito de terem sido usado mudas de meristema, o mal do panamá já se incumbiu de acabar com eles.
Há pequenos agricultores que vendem suas produções para a Del Monte, pois seguem exatamente todas as recomendações que ela determina. A comercialização dos melhores buquês é dirigida para a exportação para a Europa, em contêineres frigorificados pelos portos de Natal ou de Fortaleza. Os produtos de 2ª linha são comercializados nas Capitais do Nordeste ou em São Paulo e Rio de Janeiro. O combate às pragas é rigorosamente feito e quando necessário, o controle da sigatoka amarela é executado por avião em todos os bananais.
8. A banana no Estado de Pernambuco.
Os primeiros bananais formados em Pernambuco foram feitos pelos portugueses com mudas da cultivar Nanica, vindas de São Tomé e ou de Cabo Verde, entre 1530 e 1550. Esse procedimento decorreu do fato dos indígenas, seus escravos naquela ocasião, já estarem acostumados a comer bananas e os colonizadores tinham necessidade de garantir alimentos para eles poderem trabalhar nas lavouras da cana de açúcar e ainda eles próprios gostavam dela, pois, Portugal as importava dessas colônias. Nunca chegaram a ser grandes plantios uma vez que o Estado foi sempre grande plantador da cana de açúcar, sendo que o primeiro engenho foi feito em 1533 e em 1538 e Pernambuco já era a capital açucareira do Brasil. Com o decorrer do tempo a cultivar Nanica praticamente desapareceu, pois era quase que somente utilizada na indústria de massas.
Usando mudas de bananas do subgrupo Terra, cuja origem é desconhecida, sempre foram feitos pequenos plantios, em quase todos os canaviais de Pernambuco. As bananas que sobravam dessas propriedades eram comercializadas nas feiras livres das maiores cidades. Seu transporte era feito em jacás no lombo dos “jegues” (burros).
Outra cultivar que também era plantada em Pernambuco foi a banana ‘Branca’, desde os tempos coloniais. A escolha das áreas para seu plantio recaía principalmente nos grotões das fazendas. O paladar desta cultivar sempre foi mais aceito pela população. Os plantios eram feitos sob empreitadas, assim como sua colheita e a manutenção, que consistiam em se fazer uma ou duas roçadas por ano, quando então se praticava a limpeza das plantas e uma poda anual para reduzir o número dos filhos. Adubações não eram feitas.
Depois da 2ª Grande Guerra, Pernambuco passou a comprar bananas da cultivar Pacovan, a mais consumida hoje em Recife, as quais eram produzidas na Serra de Baturité, CE., que vinham verdes em pencas, por rodovia, em caminhões mistos, junto com outras mercadorias e pessoas embarcadas. A maturação era feita por meio de pedras de carbureto de cálcio, embrulhado em papel jornal formando pequenos pacotinhos, colocados no meio dos amontoados de pencas, as quais eram cobertas com uma manta de plástico para que o gás não se dispersasse. Inicialmente esta maturação era feita nos locais de constante feira livre, a céu aberto. Posteriormente, com a construção da CEASA, em 1968, todo esse preparo passou a ser feito nela, até que se construíssem as câmaras de maturação. Sua comercialização foi feita até há pouco tempo por milheiro de bananas, quando o torito passou ser usado.
Dado ao sucesso da comercialização da ’Pacovan’, no início da década de 70, por meio de um trabalho do Eng. Agro. Milton Moreira de Souza, da SUDENE, foi trazido um caminhão de mudas delas, compradas na Serra de Baturité, muito a contra gosto dos cearenses, que não queriam perder sua mina de ouro. A partir desse lote a ‘Pacovan’ se difundiu por toda a região e é hoje a mais produzida.
O cultivo da bananeira é atualmente feito em duas regiões de Pernambuco: a Zona da Mata Sul, cuja principal cultura é a cana-de-açúcar e a Zona da Mata Seca ou Mata Norte.
Na primeira, os principais municípios produtores são: Maraial, Cortês, São Benedito do Sul, água Preta, Amaraji e Ribeirão. Aí predominava a cultivar Branca (confundida com a ‘Prata’) e hoje praticamente só existe a ‘Pacovan’.
Na Zona da Mata Seca, os principais municípios são: São Vicente Ferrer, Vicência, Machados e Macaparana. Nessa região, os cultivos são mais diversificados, pois existem plantios de ‘Nanica’, ‘Nanicão’ e um pouco de ‘Comprida’ (‘Terra’).
Outra região produtora, que no passado não tinha muita expressão, é o Vale do Rio São Francisco. Nesse Vale e nos Perímetros Irrigados do DNOCS existiam em 1973, pequenos produtores de banana ‘Nanica’, cuja produção era e ainda é toda destinada às indústrias de doce.
Atualmente o Vale do São Francisco, tem também plantios de ‘Pacovan’, em áreas maiores e conduzidos com mais tecnologia. é uma região onde estão atuando grandes empresas exportadoras de uva e manga, portanto com pessoal de boa qualificação, organizados e acima de tudo, conhecedores dos mercados externos e por isso estão fazendo testes para exportar a ‘Pacovan’ para a Europa.
Com relação ao tamanho dos bananais, predominam os pequenos plantios. Na Zona da Mata Sul, quase todo fornecedor de cana de açúcar, tem seu plantio de banana. Estes plantios variam de 10 a 150 hectares.
Em Maraial, há uma região chamada de Sertãozinho, onde basicamente só tem banana cultivada por pequenos agricultores, cuja maior área chega aos 5 hectares. Estes sempre adotaram pouca tecnologia e ainda hoje, estão sujeitas as ações dos intermediários. Os plantios são feitos no compasso de 5 x 5 m, pois não fazem o desbaste. As mudas, para início dos plantios, geralmente, são adquiridas de vizinhos e dependendo da quantidade, estas sequer são cobradas. No máximo o interessado paga apenas as despesas com seu arrancamento.
Na Zona da Mata Seca, os plantios são maiores em relação aos da Zona da Mata Sul, mais tecnificados e aí existem produtores que ultrapassam os 800 hectares de banana, porém, não contínuos. Nesta Zona são comuns os plantios irrigados, uso da adubação, controle fitossanitário. Os melhores produtores realizam adubações químicas, fazem o desbaste e eliminação das folhas velhas empregando operários da própria fazenda. Após a colheita, executam o despencamento e a embalagem em toritos, no meio dos bananais. O transporte é realizado por caminhões para a CEASA, onde é feita a climatização.
As pesquisas começaram a ser feitas pelo Instituo de Pesquisas Agronômica de Pernambuco (IPA), depois de 1970, principalmente em propriedades particulares.
9. A banana no Estado do Espírito Santo.
Até meados da década de 60, os plantios de banana iniciados após a 2ª Guerra Mundial, eram feitos somente com a cultivar Branca e a Prata, nas encostas da Serra do Mar, nas regiões Centro-Serrana e Litorânea Sul. Os plantios iniciais foram feitos com os cultivares do subgrupo Prata, em regime familiar, no meio dos cafezais abandonados ou, preferencialmente, no tradicional sistema de se plantar em baixo da mata.
Sendo a topografia muito acidentada, com declividade de 40% ou mais, em altitudes variando desde o nível do mar a até 600m, sem haver estradas dentro dos bananais, toda a produção era transportada para a base dos morros em jacás no lombo de animais. A produção era vendida a intermediários, que chegavam nas propriedades com camionetas de uma tonelada. Estes, por sua vez, revendiam os cachos para “atacadistas”, possuidores de frota de caminhões que transportavam os melhores para o mercado do Rio de Janeiro e os demais ficavam para o consumo da Capital e de outras maiores cidades que tinham um mercado bastante restrito, além das fábricas de doces em massa.
Todos os bananais tinham sido plantados com mudas obtidas graciosamente de plantios de vizinhos e também de outros bananais vindos do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Tendo em vista que os produtores já sabiam que havia determinadas touceiras que produziam cachos melhores e maiores do que as demais, eles sempre procuravam retirar mudas delas. Com isto eles estavam realmente aumentando a quantidade da cultivar Prata, sem que ninguém tivesse lhes dito que se tratava de duas cultivares bem distintas botanicamente. Este simples cuidado deu a eles a categoria de produtores da melhor ‘Prata’, pois as plantas da ‘Branca’, que produzem cachos menores, não eram usadas para mudas.
Por falta de uma melhor metodologia de combate à broca das bananeiras, eles davam sempre preferência por plantar mudas tipo pedaço de rizoma, que possibilitava eliminar as que tivessem muitas galerias. Com o aparecimento dos inseticidas clorados, após a 2ª Guerra Mundial, as mudas passaram a ser banhadas ou mesmo polvilhadas antes do plantio. Foi uma grande melhora.
Com a ocorrência da sigatoka amarela no início da década de 70, seu desenvolvimento foi favorecido com o clima tropical úmido, a despeito de haver a estação chuvosa no verão e mais seca no inverno. Entretanto, houve grande evolução no cultivo dos bananais, graças ao esforço feito pelo corpo de extensionistas da Secretaria da Agricultura do Estado. A estes abnegados técnicos coube a missão de fazer com que os produtores se conscientizassem que o secamento das folhas e o amadurecimento precoce das bananas tinham como causa essa enfermidade, que era diferente do mal do panamá, que já havia destruído os plantios de ‘Maça’ e que seria possível fazer-se seu controle com pulverizações, foi como que preciso catequizá-los. Por falta de melhores equipamentos no Brasil e em face da topografia muito acidentada, foram abertos caminhos (trilhas) por todo os bananais para que os operários caminhassem com as máquinas atomizadeiras costais e ou de padiolas motorizadas, para fazer o controle da sigatoka amarela usando apenas o “spay oil”. Simultaneamente foi-lhes ensinada a necessidade das práticas da desfolha e do desbaste com a “lurdinha”, a fim de se deixar uma única família subindo o morro.
Nesse programa de tecnificação dos bananais, iniciado em 1970, foram introduzidas outras metodologias de cultivo para áreas mecanizáveis, juntamente com a cultivar Nanicão, pois a ‘Nanica’ não era aceita pelos compradores do Rio de Janeiro e também entre os capixabas. Inicialmente houve muita relutância na adoção desse novo pacote tecnológico pelos produtores, pois seus bananais do morro onde estavam a ‘Branca’ e ‘Prata’, nada exigiam além de duas ou três roçadas por ano. Era nessa ocasião que se fazia a diminuição do número de filhos das touceiras e a eliminação das folhas velhas. A idade desses bananais variava muito, pois a maior parte deles tinha sido plantado por seus avós.
A área plantada atualmente no Espírito Santo é de aproximadamente 21 mil hectares, envolvendo cerca de 17 mil propriedades, predominantemente de base familiar e que deve gerar aproximadamente 25 mil ocupações na cadeia produtiva, fato este que demonstra a grande importância da bananicultura para o Estado, que tem na sua Grande Vitória mais de dois milhões de habitantes.
Nas plantações existentes, a cultivar Prata comum corresponde a 75%, cerca de 15% de ‘Terra’ e ‘Terrinha’ e havendo um pouco de ‘Prata anã’ e ainda das cultivares Nanicão, Nanica, Grande Naine, Maçã, Ouro, Ouro da Mata e Mysore. A limpeza do bananal é feita, em geral, por meio de roçadas manuais, pois a topografia acidentada não permite a mecanização e nem o uso de herbicidas.
O desbaste, também conhecido por desbrota, é prática comum e feita com a “lurdinha” ou enxadão, deixando uma família por cova, que é orientada para subir o morro e a desfolha também é executada. Apenas os agricultores que destinam a sua produção para mercados mais exigentes fazem o ensacamento dos cachos.
A adubação de NPK e micronutrientes é feita em função dos preços. O calcário é usado baseado na análise do solo.
O combate à broca das bananeiras é realizado através do monitoramento da sua presença através da isca “telha” (pedaços de pseudocaule) que também serve para receber o inseticida, Há alguns produtores usando ferormônio. Nos plantios da ‘Maçã’ o tratamento é sempre preventivo. Quanto aos nematóides nada tem sido feito devido a predominância da ‘Prata’ comum, que é menos parasitada.
Quanto a sigatoka amarela, nas regiões tradicionais de banana ‘Prata’ não é feito o controle. Em áreas mecanizáveis, com as cultivares Prata anã e do subgrupo Cavendish, o controle é feito com fungicidas triazóis associados com óleo agrícola, aplicado por atomizadores motorizados e por avião. Ainda não se tem notícia da presença da sigatoka negra.
O despencamento e a embalagem são feitos no bananal pela maioria dos produtores, mas há também alguns que tem galpão de embalagem.
As bananas são colocadas em pencas ou buquês apenas para alguns mercados especiais. A grande maioria dos produtores comercializa em caixas tipo torito ou de plástico reciclado ou até mesmo em cachos. Já existe um mercado de banana orgânica no Estado que é embalada em buquês, inclusive para a exportação. O amadurecimento em câmaras é feito apenas por alguns produtores, sendo que os demais usam as das Associações de Produtores ou Cooperativas.
A reforma do bananal é feita sempre que possível pelos novos produtores porem os mais tradicionais optaram apenas por fazer a condução do bananal com mãe, filho e neto.
Nos novos plantios predominam mudas do tipo filhote (chifre e chifrinho), mas alguns produtores ainda usam pedaço de rizoma. Há um compasso de espera para sondagem dos consumidores para o plantio de mudas das cultivares do subgrupo Prata, como a ‘Vitória’ e ‘Japira’, micropropagadas, provenientes de laboratórios de cultura de tecidos do INCAPER, que são resistentes às doenças.
As covas têm geralmente as dimensões de 30 x 30 x 30 cm abertas com espaçamento de 3 x 3 m para as cultivares Prata e 3 x 2 m para as do subgrupo Cavendish, sendo que nas áreas declivosas são feitas em curva de nível.
Os novos plantios de banana ocorridos no final da década de 70, foram feitos com ’Prata’ e ‘Terra’, em áreas de velhos cafezais abandonados, em decorrência dos baixos preços que se pagavam pela saca de café. O cultivo da banana ‘Prata’ no Estado teve seu auge no final da década de 80, quando foi responsável pela oferta de 75% da demanda do Estado do Rio de Janeiro, além de ocupar posição de destaque no fornecimento do produto para Minas Gerais e Brasília.
O maior crescimento da cultura ocorreu até na década de 80, mas nos anos 90, sofreu um forte revés, ocasionado pela concorrência da banana produzida na Região de Janaúba, MG., além das oportunidades e pelos preços alcançados pelo café, que acabaram desestimulando os produtores a investir na cultura da banana.
Em razão da suscetibilidade às doenças, associadas a baixa produtividade, qualidade e frágil estrutura de comercialização, ocorreu um desestímulo da atividade, agravada com a expansão da cultura na Região Norte do Estado de Minas Gerais, na Região de Janaúba, que passou a ofertar banana com padrão superior, dominou o mercado do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília e ainda pelos preços alcançados pelo café.
Em uma programação de orientar produtores na região Litorânea Sul, feita no início da década de 70, pelo Eng. Agro. Raul Moreira, foi encontrado em uma propriedade de Cariacica, uma bananeira semelhante a cultivar Ouro, vinda de Colatina e por isso foi-lhe dado o nome de Colatina Ouro. A banana tem o dobro do comprimento da ‘Ouro’, porém, por ocasião da colheita, seu diâmetro permanece fino, lembrando um dedo de moça. O cacho tem de 8 a 12 pencas, bem espaçadas e a polpa não é tão doce como a ‘Ouro’, porém tem maior resistência as sigatokas.
Atualmente há uma programação governamental apresentando as tecnologias mais recentes obtidas pelas pesquisas realizadas no Estado, com o objetivo de incrementar o estímulo à produção com qualidade e rentabilidade do agronegócio banana no Espírito Santo.
Em agosto de 2005, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER) lançou dois novos híbridos tetraplóides (AAAB) do tipo ‘Prata’: ‘Japira’ e ‘Vitória’ que foram desenvolvidas a partir de 1994, por cruzamentos convencionais entre a ‘Pacovan’ (AAB) e com o diplóide M53 (AA), parental masculino e depois selecionados. São mais produtivos do que a cultivar Prata, sendo bastante semelhantes a cultivar Pacovan, com resistência às doenças sigatoka negra, sigatoka amarela e mal do panamá e ainda tem frutos maiores, mais grossos e com sabor semelhante aos das cultivares Prata e Pacovan e que são resistentes ao despencamento.
10. A banana no Estado do Rio de Janeiro.
Conforme já foi dito em nossa introdução, sempre que um engenho era construído, um pequeno bananal também era plantado, pois a banana era um dos componentes básicos da alimentação dos escravos e ainda da mesa dos senhores do engenho. Cana de açúcar era a principal cultura, porém como alimento, além da banana, plantava-se também o feijão, arroz, mandioca e milho.
Foi em 1534 que ocorreu o plantio dos primeiros bananais que se tem notícia no Rio de Janeiro. Em 1557 já havia 18 engenhos em operação. A banana além de ser alimento generalizado, as folhas das bananeiras eram utilizadas para se forrar as caixas de açúcar para a exportação. Os índios aceitaram trabalhar como escravos até 1568, pois gostavam do açúcar e da aguardente que era produzida. Com a proibição da sua utilização como escravo, parte deles fugiu para Niterói, onde viveram durante algum tempo isolados. Outros seguiram para o interior, porém esses grupos já tinham absorvido o costume de beber a pinga.
A partir de 1572, houve a formação de várias vilas junto aos engenhos.
Em 1637, foi aumentado o plantio de cana e banana, cujas mudas vieram de Santos. Em 1650 foi o apogeu da cana de açúcar quando então havia 528 engenhos que exportaram 37 mil caixas, com 35 arrobas (quase 20 mil toneladas). Entretanto, foi entre 1701 a 1750, quando chegaram 800 mil escravos, que houve a grande expansão do Estado do Rio de Janeiro, com a introdução do gado vindo dos Açores e Cabo Verde e o aumento do número de engenhos e das atividades agrícolas baseadas na cana de açúcar e na mandioca.
No final do século XVII a produção de açúcar foi muito grande. Este panorama associado às exportações de ouro vindo do interior de Minas Gerais, motivou muitos portugueses a se mudarem para o Brasil, como colonos.
Como conseqüência, em 1770 o Rio de Janeiro já tinha mais de 210 mil habitantes, que precisavam comer a tal fruta banana. Não se têm dados da quantidade de bananeiras existentes nessa época, mas em toda a baixada havia plantios.
Com a vinda da Família Imperial para o Brasil em 1808, faziam parte da corte cerca de 10 mil pessoas.
A história da ocupação da Baixada Fluminense tem quase quinhentos anos, se formos contá- la a partir da chegada dos primeiros portugueses, sendo que ela já era habitada por várias tribos indígenas.
Em 1822 a população do Rio de Janeiro era de 160 mil brancos e 170 mil escravos, que em 1870 já eram 300 mil. Com a abolição da escravatura em 1888, os escravos fugiram para o interior do Estado e também para Minas Gerais e São Paulo. As propriedades agrícolas entraram em colapso.
Os engenhos eram construídos sempre próximo de um rio, pois o açúcar produzido tinha que ser conduzido até um porto para a exportação. Na Baixada Fluminense, antes da sua drenagem, havia 5 a 6 rios que permitiam a saída do açúcar.
As matas da Baixada Fluminense depois de derrubadas não se regeneravam e por isso precisavam ser cultivadas e a banana era uma opção.
Os plantios eram portanto, pequenos e esparramados pelas baixadas de Rio Bonito até Angra dos Reis. Na Baixada Fluminense, os bananais também eram plantados em várzeas menos sujeitas as influencias das marés, por ficarem mais distantes do mar. Suas produções eram transportadas por canoas com 10 ou mais metros, feitas de troncos de grandes árvores. Para que essas canoas pudessem navegar dos bananais até as barcaças, eram abertas valas com 2 a 3 m de largura e aproximadamente 1 m de profundidade. Cada canoa transportava até 100 cachos de bananas, sem nenhuma embalagem, os quais em geral, eram destinados ao mercado Platino ou mesmo para o consumo da Capital Federal. As bananas colhidas eram transportadas para as canoas por meio de zorras puxadas por bois ou muares, da mesma forma como se fazia na baixada santista. As cultivares predominantes eram a Nanica e a Nanicão, semelhante a dos Ingleses e em menor quantidade a Lacatan, que no Estado do Rio de Janeiro todas elas eram conhecidas como Banana d’água. Uma característica desses bananais era o seu constante nomadismo, uma vez que eles eram mantidos até exaurirem toda a fertilidade do solo, ocasião em que se desbravava uma outra área. A mão de obra empregada nessas propriedades era quase formadas só por antigos escravos, que aceitavam qualquer tipo de serviço e moradia. Os mantimentos para seus consumos eram trazidos pelas canoas dos donos dos bananais.
A medida em que os bananais chegavam ao pé das montanhas, os produtores começavam a fazer aí os seus plantios da cultivar Branca, cujo desenvolvimento se processava melhor em terrenos mais firmes de meia encosta.
Com o fim da escravidão em 1888, o negro levou a banana ‘Nanica’ para as encostas da Serra do Mar, mas ela não se desenvolveu bem, o que não acontecia com a ‘Branca’ que já estava lá.
Em 1904, foram exportados da Baixada Fluminense 86 mil cachos e em 1907, atingiu 103 mil, sendo parte de Rio Bonito. Há registro da existência de um milhão de bananeiras ‘Nanica’ em 1931, nessas regiões. Elas eram mais consumidas nas fábricas de doces e também pelos descendentes dos escravos. Nessa mesma ocasião, os plantios da cultivar Maçã já estavam muito contaminados pelo mal do panamá e em processo de abandono. Entretanto, nas íngremes montanhas da Serra do Mar, a partir de Angra dos Reis na face exposta para o Atlântico até Macaé e ainda no contraforte dessa serra, como na cidade de Bananeiras, a cultivar que predominava e assim ainda persiste, era a ‘Branca’. Não é possível determinar-se quando esses plantios foram feitos, porém tem-se informações de antigos moradores de vários deles, de que isso ocorreu há mais de 180 anos, sem nunca terem sido reformados. São bananais que uma ou duas vezes por ano apenas são roçados. A colheita ou melhor, a cada 15 dias se dá uma volta pelo bananal “caçando” cachos que possam ser colhidos. Quando ocorre um longo período seco, acontece do bananal “incendiar-se sozinho” e então, o produtor aproveita para fazer uma poda geral, ao nível do solo, o que ele considera uma reforma. No seu dizer isto é bom, pois a broca das bananeiras morre. A produção é vendida sempre para intermediários no próprio bananal, a qual abastece as quitandas da periferia das cidades. O amadurecimento ainda é feito mantendo os cachos em local abafado ou por meio de carbureto de cálcio. Essas bananas normalmente são colhidas quando já estão em quase início de maturação e por isso, nem sempre são processadas. Calcular-se a quantidade de plantas que existe nessas condições, somente é possível com fotografia aérea.
Desde o início do século XIX, tem-se notícias de produções de banana da cultivar Ouro, nas encostas frias e úmidas da Serra do Mar, principalmente no caminho para Petrópolis. A produção dessa cultivar é pequena, sendo um verdadeiro folclore, cujos cachos são, desde longa data, vendidos nas beiras dos caminhos. Com a evolução dos mercados, ela é encontrada nos supermercados, em pequenas quantidades, porém com elevado preço. é talvez a cultivar mais atacada pela sigatoka amarela. Outra característica da ‘Ouro’ é que em regiões secas, mesmo com irrigação, sua produção não é comercial.
Em 1945, em Cardoso Moreira havia grandes plantios de ‘Maçã’, que continuou sempre nômade atrás de terras virgens, usando de preferência o sopé das montanhas.
Em 1970, em Casemiro de Abreu, formaram-se bananais com cerca de 600 mil pés de ‘Nanicão’, com mudas vindas de São Paulo, cuja vida foi de apenas uma década, em face dos problemas com nematóides e tipo de solo. Em Magé, vários produtores fizeram pequenos plantios com até 50 mil pés, que existem até hoje, principalmente com cultivares Prata anã, Nanicão e Terra.
O mercado do Rio de Janeiro, que sempre deu preferência pelas bananas do subgrupo Prata, a partir da 2ª Guerra Mundial, foi abastecido até l990, com frutas vindas do Espírito Santo. Inicialmente o transporte era feito em caminhões com cachos a granel, mas com a introdução do torito, somente são transportadas em pencas. Elas são entregues na CEASA do Grande Rio, onde intermediários fazem sua climatização, para depois abastecerem os supermercados. Depois dessa data, o maior fornecedor desse mercado passou a ser a região de Janaúba, MG.
A cultivar Carnaval foi encontrada pelo Eng. Agro. José Régis de Mello Filho, em Conceição de Macabu, RJ., há cerca de 50 anos. é uma cultivar semelhante em tudo a ‘Terra’, porém apresenta quimeras nas folhas e frutos. As partes afetadas perdem a capacidade de produzir clorofila e com isto ficam listradas, com faixas verde-intenso alternando com faixas quase brancas, que se distribuem sempre no sentido das nervuras secundárias e no comprimento das bananas. é uma modificação que se processou apenas externamente, sem ter afetado o fruto ou a polpa. é uma característica que se mantém estável.
11. A banana no Estado de Minas Gerais.
Entre os Estados produtores de banana, Minas Gerais se destaca coma aproximadamente 42.000 ha cultivados, sendo que destes, cerca de 15.000 ha estão na sua região Norte. Esta área se diferencia das demais por trabalhar basicamente com a ‘Prata anã’, cultivada sob irrigação. Há ainda a se considerar os plantios feitos no Baixo São Francisco que são mais recentes e aqueles feitos no Sul do Estado.
Na região Norte, os primeiros plantios de banana foram feitos em 1982 por antigos produtores do Vale do Ribeira SP., sendo que as áreas já haviam sido cultivadas com outros produtos. Para iniciar os plantios, foram trazidas mudas das cultivares Nanica e Nanicão dessa região paulista, onde os nematóides já causavam prejuízos. Infelizmente não foram tomadas as medidas profiláticas que se faziam necessárias. Hoje se gasta muito dinheiro no seu combate.
Atualmente existem quatro perímetros públicos de irrigação no Norte de Minas sob a coordenação da CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco): Pirapora, Gorutuba, Lagoa Grande e Jaíba. Juntos apresentam 23.940 ha disponíveis, dos quais 12.900 ha já estão sendo cultivados com fruticultura, o que representa 63,8 % da área. Diversas áreas empresariais privadas se somam a estas, dobrando a área produzida com fruteiras, onde a cultura da banana representa 70%, a despeito de ser baixa a produção média (17 t/ha/ano). Nessa região, a irrigação e as constantes temperaturas elevadas garantem uma produção quase que estável durante todo o ano.
A bananicultura é, portanto, uma atividade estratégica para a região, envolvendo um grande número de famílias em empregos diretos (atividades na lavoura) e indiretos (fabricação de embalagens, comércio de frutas e insumos, manutenção de equipamentos, etc), que segundo informações da Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (ABANORTE), chegam a 60.000 pessoas.
Decorrente do insucesso havido com a ‘Nanicã’, optou-se pela cultivar Prata anã (AAB), que é atualmente a mais plantada na região, cuja origem é de Santa Catarina. é muito cultivada por suas características organolépticas que agradam bastante ao consumidor brasileiro e aos bons preços alcançados pelo produto no mercado. Esta cultivar é estudada principalmente em regiões de Minas Gerais, Santa Catarina e Bahia.
Nas áreas de sequeiro a produtividade da ‘Prata anã’ varia de 10 a 20 t/ha/ano, já nas áreas onde de se trabalha com irrigação esta produtividade chega a 22 a 35t/ha, dependendo da condução. No Norte de Minas, se encontra o maior plantio comercial de ‘Prata anã’, cultivada sob irrigação, que é limitante para sua boa produção e, portanto, é nessa região que surgem problemas que carecem de estudos e soluções.
Nesses perímetros, os solos são do tipo aluvial (neossolo flúvico), latossolo vermelho amarelo e areia quartzosa (neossolo quartzarênico), geralmente com teores de areia acima de 65%, baixa CTC e com boa disponibilidade dos cátions Ca, Mg e K, conseqüentemente com valores de pH e saturação de bases mais altos.
O Projeto Jaíba é uma extensa área localizada à margem direita do Rio São Francisco e dentre os quatro perímetros irrigados do Norte de Minas, é o que apresenta maior potencial de crescimento. Segundo informações do Distrito de Irrigação do Jaíba (DIJ), hoje são 8.000ha irrigados e quando completo serão 80.000ha.
Dada às condições climáticas favoráveis do Projeto Jaíba à produção de banana durante todo o ano e somado à topografia quase plana e ainda sua localização geográfica em relação a grandes centros consumidores, tornam seu cultivo muito atrativo e lucrativo, capaz de superar os altos custos representados pela irrigação.
Os solos do Distrito de Irrigação de Janaúba têm baixos teores de zinco para a bananeira. Como conseqüência, os sintomas de sua deficiência apresentados pelas plantas são comuns, pois o tipo de solo favorece a adsorção desse micronutriente. Outro micronutriente importante para a cultura da bananeira é o boro, cujos sintomas de deficiência também são facilmente observados na maioria dos plantios.
Uma forma alternativa utilizada pelos produtores no fornecimento de zinco e boro para as bananeiras, uma vez que eles limitam sua produtividade, foi fazer suas aplicações no interior do pseudocaule de um filho desbastado com a “lurdinha”, pois com isso evitou-se suas perdas quando colocados no solo.
Admite-se que o balanceamento de nutrientes, principalmente com o fornecimento adequado de Ca, Mg e Zn, possa causar menor incidência de mal do panamá, que é bastante grave em Jaíba, a ponto de já estar causando diminuição da produção.
Há alguns plantios novos bananais, cerca de 60% deles, onde se plantam mudas de laboratório previamente desenvolvidas em sacos de plástico preto, usando cultivares Nanicão, Grande Naine e Williams e o restante com mudas tipo filhote do próprio bananal, devidamente escalpeladas e tratadas com nematicidas sistêmicos. Nestes bananais é comum o plantio de densidades elevadas em torno de 3 a 3,5 mil mudas por hectare. Faz-se uma ou até mesmo duas colheitas e em seguida se reduz a população para a metade. Esses plantios são feitos visando a comercialização no Estado de São Paulo, uma vez que o mercado consumidor de Minas Gerais é para bananas do subgrupo Prata.
Os plantios em grandes áreas, com mais de 100 mil pés, são feitos com mudas de meristema, no espaçamento de 2,50 x 2,00m, deixando apenas uma família por cova. Em função do sistema de irrigação, há vários outros espaçamentos tais como 2 x 4 m usando duas famílias por cova. A irrigação é por sub copa com microaspersores (140 litros/h) ou miniaspersores (70 litros/h).
As adubações com NPK são feitas por meio de aplicações diretamente no solo e também com a água de irrigação. Os cachos depois de formados são envoltos em sacos de polietileno, quando então os restos florais masculinos são eliminados, assim como a última penca. Após a colheita, os cachos são levados para os galpões de embalagem por meio de cabos aéreos, onde são despencados, lavados, classificados e embalados em buquês em caixas de madeira virgens para 20 kg e ou de plástico reciclado para 25 kg. O transporte é feito em caminhões frigorificados ou em caminhões abertos, para as cidades onde o amadurecimento das bananas é processado.
Há também menores produtores que se diferenciam por transportarem os cachos em carretas para o galpão de embalagem, onde eles são igualmente preparados e embalados. Estes são, em geral, filiados da ABANORTE que cuida do fornecimento dos insumos e da comercialização.
Os plantios são feitos no regime de administração direta, havendo pequenos casos de parceria. Sendo a área quase plana e destocada, o preparo do solo é feito todo mecanicamente, assim como a abertura das covas por meio do sulcamento. As mudas são plantadas depois de terem sido cultivadas em viveiros. Sendo o pH da região próximo de 7, não se faz a calagem, mas por ser pobre em fósforo, o fosfato natural é distribuído na área total, durante o preparo do solo.
O produtor já está consciente da necessidade de fazer a reforma periódica do bananal, no máximo a cada 5 anos. Há produtores que cultivam a ‘Pacovan’ em densidades de 4 a 5 mil pés por hectare, que estão fazendo plantios anuais, com produção acima de 150 toneladas no hectare. Esses produtores em geral, usam mudas retiradas do seu próprio bananal, tipo chifrão (2 a 3 kg), escalpeladas e banhadas em solução de hipoclorito de sódio a 1%.
O controle da sigatoka é ainda feito só para a amarela, por meio de aviões, aplicando óleo mineral com fungicida sistêmico, em geral, por 4 a 5 vezes por ano, pois o clima sendo semiárido dificulta o desenvolvimento do fungo. Os focos da sigatoka negra na região são ainda “considerados sem confirmação” e por isso não estão sendo controlados, o que é um risco grande.
Tendo em vista que a área plantada é na maior parte da cultivar Prata anã, que é medianamente tolerante ao mal do panamá e que ele já está presente em várias localidades, há grande interesse que se obtenha uma cultivar resistente para substitui-la.
No Sul de Minas Gerais, no início do século XIX, houve introdução de muitas cultivares oriundas do Rio de Janeiro, destacando-se a ‘Maçã’ e a ‘Ouro’, que foram levadas pelos brancos ao desbravarem as terras além da Serra da Mantiqueira, pois os indígenas somente conheciam a ‘Pacóva’ e a ‘Branca’.
Nessa Região Sul, durante a primeira metade do século passado, os plantios de banana se caracterizaram pelo aproveitamento das encostas das montanhas, em parte para evitar os prejuízos ocasionados pelas geadas. Somente eram plantadas as cultivares Branca e Prata, indistintamente, em compassos de 5 x 5 m. O sistema de preparação da área era o mesmo usado no Litoral Paulista, ou seja, roçadas, plantio, derrubada da mata, lenhar e depois passar um fogo rápido. Devido em parte pela topografia acidentada, os tratos culturais se restringiam a uma ou duas roçadas ao ano, quando então se fazia uma pequena redução no número de filhos. Com este procedimento, facilmente se encontrava touceiras com 10 ou mais filhos. Nenhuma adubação ou corretivo de solo era feito. A produção era sempre maior após as chuvas e as temperaturas mais elevadas, fazendo com que as colheitas, feitas por empreitadas, fossem realizadas a cada 10 dias, enquanto que no período restante era alongado para até ao dobro desse tempo. O transporte dos cachos era feito nas cangalhas dos animais ou quando muito em jacás. Para a comercialização, os cachos eram amontoados e cobertos com folhas de bananeiras, em galpões abertos até que começassem a se desverdecer, quando então eram levados para os mercados municipais. A justificativa de tal maturação é que os cachos dessas cultivares sempre foram colhidos quando estavam quase maduros. Devido em parte pela topografia acidentada dessa região, a prática da renovação dos bananais não é feita e com isso facilmente se encontram alguns deles com mais de 30 ou 40 anos, cuja produtividade é inferior a 15ton.
Convém destacar que nas encostas menos acidentadas, a cultivar plantada, nessa época, era a ‘Maçã’, que recebia os mesmos tratos culturais e manuseio. Ao se plantar esta cultivar já se sabia que o mal do panamá iria aparecer a qualquer momento e por isso nenhum desbaste era feito. Quando a doença aparecia, a área era abandona e as mudas “selecionadas visualmente” levadas para se fazer novo plantio, em outro lugar. Em geral, nos plantios de 'Maçã' chegava-se a colher até 3 cachos, porém, ocasionalmente 5, quando então a “maldição chegava” e a área era transformada em pastagem. Somente depois de 1970, é que começaram a se formar nessa região alguns bananais usando cultivares do subgrupo Cavendish, com as tecnologias atuais.
O controle da sigatoka amarela nem sempre é feita, porém os pequenos produtores que a fazem usam atomizadores costais; os que têm áreas maiores se utilizam de atomizadores acoplados aos tratores, realizando a operação durante as noites de pouco vento, usando óleo mineral com fungicida sistêmico. Segundo comunicação verbal feita a este autor pelo Prof. Otto Anderson, da Universidade Federal de Viçosa, ele coletou no início da década de 30, na Zona da Mata, próximo de Viçosa, uma cultivar que ele denominou de Ouro da Mata, que se assemelha a cultivar tipo Prata, sendo a planta e os cachos mais vigorosos e se mostrado tolerante ao mal do panamá. A justificativa do nome está ligada aos caminhos feitos, nessa região, em busca de ouro, pelos colonizadores, conhecida como “Trilha do ouro”.
12. A banana no Estado de Goiás.
O inicio dos plantios de banana no Estado de Goiás ocorreu quando do seu desbravamento feito pelos Bandeirantes, em suas Entradas e Bandeiras por volta de 1650. A missão delas era a mineração e a captura de índios para serem escravos. Na realidade estas atividades já haviam sido feitas no Planalto do Estado de São Paulo. Os Bandeirantes levavam consigo um contingente de famílias que acabavam fundando vilas nos locais onde acampavam. Com isto traziam sementes e mudas para se instalarem. Dessa forma trouxeram mudas de bananas que aumentaram as cultivares que os índios já tinham. A bananicultura era considerada um alimento. A produção era de consumo familiar, sendo o excedente comercializado na vila.
Esta situação perdurou por até depois da 2ª Guerra Mundial, quando foram abertas estradas e houve o aumento da população das cidades. Porém os plantios efetivos de banana como cultura, somente ocorreram quando o mal do panamá liquidou com os bananais de ‘Maçã’, em São Paulo, no final da década de 60. Os plantios eram feitos para formação de futuras pastagens, no espaçamento de 4 x 4 m ou mais ainda, em covas com 40 x 40 x 40 cm, pois nada se investia nos mesmos além do preparo do solo, que consistia no desmatamento e queima das coivaras, o plantio das mudas e a formação de uma lavoura anual de algodão e ou de milho como cultura intercalar. Nesta região predominavam variedades do grupo AAB, com destaque para ‘Maçã’ (80%), ‘Terra’ e ‘Prata’. Também existiam alguns cultivos de bananas do subgrupo Cavendish. Tudo que se colhesse era lucro, uma vez que os plantadores eram na realidade empreiteiros, que ficavam com a produção e tinham por obrigação deixar o pasto formado. As produções eram vendidas quase sempre para os motoristas de caminhão, que traziam os cachos a granel, como carga de retorno e realizavam as vendas na Capital de São Paulo e suas principais cidades.
Com a chegada do mal do panamá, alguns proprietários que tinham ganho bom dinheiro com a banana ‘Maçã’, passaram ao plantio de outras cultivares resistentes a fusariose. Iniciaram com a ‘Prata’, a ‘Terra’ e a ‘Marmelo’ (‘Figo vermelha’) que já e eram encontradas esparsamente na região. Essas lavouras foram plantadas e conduzidas com bom índice de tecnificação, incluindo a irrigação e, mais recentemente, estão sendo aumentadas com mudas produzidas por biotecnologia. Neste caso as cultivares mais utilizadas têm sido a ‘Prata anã’, ‘Nanicão’ e ‘Terra’, existindo em 2003, mais de 27.000 hectares de bananais, com uma produção de cerca de 250 mil toneladas no ano.
Pode-se dizer que na região do Sudoeste Goiano, originou-se um pólo de banana ‘Terra’, centralizado no município de Jataí. A comercialização dessas bananas tem sido feita diretamente nas CEASAs de Goiânia (‘Nanicão’, ‘Prata’ e ‘Terra’), de Uberlândia-MG (‘Prata’ comum) e de Ribeirão Preto-SP (‘Marmelo’). Entretanto, a atual produção não é suficiente para o abastecimento da população dessa região, principalmente a da Grande Brasília, que está sendo suprida com bananas do Perímetro de Irrigação de Bom Jesus da Lapa, MG. (‘Nanicão’ e ‘Prata’) e de Santa Catarina via São Paulo (‘Nanicão’).
13. A banana no Estado do Amazonas.
A existência da banana no território brasileiro é ponto passivo entre os historiadores, desde sua descoberta. No alto Rio Amazonas foram encontrados plantios de bananeiras em 1565. Esse Rio é o segundo maior do mundo, com 5.825km, dos quais cerca de 3.000 estão em território brasileiro.
No Amazonas, as áreas com bananais expandiram muito pouco, apesar de aí se encontrarem as melhores condições de clima para seu desenvolvimento. Porém, o mercado consumidor é bem pequeno, sendo o maior o de Manaus (em 1970 – 331 mil habitantes e em 2000 – 1.405 mil). Ela foi oficialmente fundada em 1848, porém em 1695 já tinha sido construída a primeira igreja católica, marco da presença dos portugueses. Os descobridores, ao viajarem por esse rio, encontraram as bananas ‘Pacóva’ e a ‘Branca’ em todas as comunidades indígenas, desde sua barra até sua nascente. Os plantios comerciais são pequenos e só iniciaram depois de 1950, usando toda a metodologia de desbravamento de uma área na base de roçada, derrubada e fogo para completar a limpeza, sem haver preocupação com o uso de defensivos nas mudas e ou nas plantas e sem uso de fertilizantes ou corretivos. Os tratos culturais são representados por meras roçadas uma ou duas vezes por ano. As áreas plantadas são muito pequenas, dificilmente maiores do que três hectares. Nas várzeas, onde há inundação todos os anos, a área plantada representava 80% das lavouras, sendo aí a vida normal do bananal de apenas uma safra. Em terra firme, onde estavam os 20% restantes, a vida desses bananais era mais longa, porém, sendo no máximo de três anos. Atualmente essas porcentagens são meio a meio. O normal era o produtor colher apenas uma ou duas safras, quando então ele apenas usava essa lavoura para produção de mudas.
Os plantios foram sempre feitos em caráter nômade nas várzeas inundáveis do rio. Era praticamente um cultivo extrativista. Os cachos colhidos normalmente eram vendidos ou trocados por mercadorias nos barcos grandes ou menores, que navegavam pelos rios maiores e seus afluentes. Estes por sua vez, revendiam os cachos para os proprietários de bancas no mercado. Se o bananal estivesse perto de um centro maior ou mesmo de Manaus, os agricultores transportavam suas produções em cachos, em canoas motorizadas ou não, para as cidades, cuja venda era quase sempre feita nelas mesma para intermediários, que as entregavam no comércio. Ainda há as venda nas ruas, em pencas, colocadas em cestos ou jacás de cipó que são carregados sobre a cabeça ou em pencas colocadas em carrinho de mão. Somente os supermercados recebem de intermediários compradores bananas em toritos, os quais são embalados nas propriedades. é comum também a venda de bananas tipo “chips” nas ruas de Manaus e até mesmo embaladas nos supermercados.
O transporte de cachos em caminhões somente aconteceu há cerca de 10 a 15 anos, quando Manaus começou a receber bananas de Roraima, pois sua produção diminuíra muito com o abandono dos plantios.
é freqüente encontra-se nos bananais a “broca gigante da cana-de-açúcar” (Castnia licus), que causa maiores prejuízos do que a broca das bananeiras (Cosmopolites sordidus), que também existe, porém não se faz controle sobre estas pragas. Ao se plantar um novo bananal, o combate sempre foi feito com o facão escapelando a muda visando retirar as galerias.
Em 1976, foi encontrado o moko, no Território do Amapá, em várzeas inundáveis do Rio Pedreira e posteriormente ao longo de outros bananais do Amazonas. Depois de ter-se feito um programa de sua erradicação, logo após sua constatação, viu-se que seria impossível obter-se êxito, uma vez que ele estava bastante difundido, apenas nas várzeas inundáveis, cujo acesso em todas elas era inviável. Atualmente, a doença já se expandiu muito e causa altos prejuízos ao longo dos rios do Amazonas, do Pará e do Amapá e já se encontra disseminada em áreas de terra firme, como em Presidente Figueiredo no Amazonas e também em Porto Velho em Rondônia.
Com a presença da sigatoka negra constada no Brasil, pela primeira vez foi em Tabatinga, Amazonas, em fevereiro de 1998, os plantios de todas as cultivares susceptíveis quase foram dizimados, sendo que as regiões de Coari e Codajás, que eram as capitais da banana no Estado, já não mais a produzem.
A sigatoka negra foi encontrada, inicialmente em cultivares do subgrupo Terra, do subgrupo Figo (Bluggoe) e do subgrupo Prata e, com o passar do tempo, em quase todos os bananais do Brasil. Seu controle na região Amazônica é impraticável, primeiramente pelo nível cultural dos antigos produtores e por serem os plantios de apenas dois a três ha, esparramados por toda a área. Além disso, o clima é totalmente favorável ao desenvolvimento do fungo que, para seu controle seria necessário uma pulverização por semana, o que é antieconômico. Por falta de produção, durante algum tempo, houve necessidade de se transportar de avião para Manaus, bananas produzidas em São Paulo, para abastecer os supermercados.
Para que isto não perdurasse indefinidamente, os órgãos governamentais do Estado fizeram um programa de introdução de cultivares e híbridos tolerantes à sigatoka negra, juntamente com um pacote tecnológico muito atualizado. Dentre as escolhidas, inicialmente foram a ‘Caipira’, ‘Thap Maeo’, ‘FHIA 18’ e ‘Prata Zulu’ e depois ampliado com a distribuição de mudas das cultivares BRS Prata Caprichosa, BRS Prata Garantida e Pacovan Ken.
Como resultado da presença da sigatoka negra, ocorreram grandes modificações nas áreas de produção do Estado do Amazonas, possíveis de já serem analisadas, como por exemplo em Rio Preto da Eva, que não plantava banana, passou a ser o maior produtor; em Presidente Figueiredo houve substituição de seus antigos plantios que eram susceptíveis à sigatoka negra por novas cultivares tolerantes, usando as tecnologias atualmente disponíveis e no município de Iranduba foram instaladas algumas mini-indústrias para produzir doces e bananas passa. Nos municípios no entorno da Manaus já tem alguns plantios com cerca de 10 a 20 ha cada, onde as atuais tecnologias foram adotadas. Tudo isso foi graças a ação do Governo do Estado que distribuiu cerca de 4 milhões de mudas dessas novas cultivares.
14. A banana na Ilha do Bananal.
é a maior ilha fluvial do mundo com cerca de 2 milhões de ha, onde existem cinco municípios, tendo hoje uma população aproximada de 12 mil brancos e 1.700 indígenas. Foi visitada pela primeira vez em 1525 por Pedro Aleixo Garcia, juntamente com jesuítas, mas devido as condições muito adversas, abandonaram o projeto de explorar o ouro aí existente. Posteriormente, em 1773, foi redescoberta por José Pinto Fonseca, que lhe deu, inicialmente, o nome de Santana. Entretanto, pelos inúmeros bananais silvestres encontrados, passou a chamar-se Ilha do Bananal, que está no rio Tocantins, a 250 km de Palmas, Capital do Estado de Tocantins, que foi desmembrado da Região Norte de Goiás. Esse fato é um marco muito importante para se afirmar que a banana já existia em nosso território, antes da chegada de Cabral, em 1500.
Quem a trouxe?
É uma resposta que o tempo se incumbirá de um dia nos contar.Fonte:
MOREIRA, R.S.; CORDEIRO, Z.J.M. A história da banana no Brasil. In: REUNIÃO INTERNACIONAL
ACORBAT, 17., Joinville, SC, BRASIL. Bananicultura: um negócio sustentável - anais. Joinville:
ACORBAT/ACAFRUTA, 2006. v. 1, p. 48-82. Conferência.